Segundo os vendedores contactados pelo “Notícias” no local, a mercadoria é adquirida nas lojas, armazéns e fábricas da cidade, para além de outros materiais fornecidos por alguns camionistas que os adquirem na vizinha África do Sul.
Todos foram unânimes em dizer que o negócio não é rentável, mas uma vez constituir a sua única fonte de rendimento, vale a pena “remar contra a maré”, pois ficar em casa não compensa.
As fontes acrescentaram que apesar de não ganharem muito com o negócio, conseguem sustentar as suas famílias, permitindo que as suas crianças possam ir à escola.
Em relação as autoridades municipais, diferentemente de muitos vendedores informais, os nossos entrevistados não se queixam, afirmando que nunca tiveram atritos com qualquer que seja a autoridade, muito menos ver as suas mercadorias confiscadas.
Felisberto Alfiado, 35 anos, solteiro, vivendo maritalmente há seis anos e pai de um filho, disse à nossa Reportagem que se dedica a este negócio há cinco anos. Começou a vender sacos, tendas e cordas por falta de alternativa ao desemprego que, segundo ele, é provocado pela sua baixa escolaridade.
Afirmou que não ganha muito com a actividade que abraçou, tendo um lucro diário que varia de 200 a 250 meticais e como forma de suprir a fraca rentabilidade do negócio recorre ao “xitique”, que é feito diária ou semanalmente entre os vendedores.
O nosso entrevistado avançou que adquire as suas mercadorias nas lojas, sendo que uma caixa compra a um preço que varia de cinco a 25 meticais. Por sua vez, vende a um preço que vai de 50 a 60 meticais cada.
Por outro lado, uma tenda do tamanho de cinco metros quadrados compra a 500 meticais e revende a um preço que varia de 650 a 700 meticais.
Alfiado admitiu que é difícil viver deste negócio, mas é possível. O movimento de compradores varia de um dia para outro, afirmando que vezes há que vai para casa sem ter vendido algo.
Cénio Tomás tem 29 anos, solteiro, vende fita-cola e cordas de diferentes tipos e tamanhos. Como Alfiado, o nosso interlocutor afirmou que o negócio não é rentável mas vale a pena, pois é através dele que há pão em casa.
“Não estamos habituados a ficar em casa. Não ganhámos nada mas, vale a pena estarmos aqui. Assim evitamos roubar coisas alheias, não temos mais nada a fazer. Eu, por exemplo, estou aqui há oito anos, não tenho outra referência, se não fazer isto”, explicou Tomás.
A nossa fonte acrescentou ainda que uma corda de 100 metros adquire nos armazéns a 1.350 meticais e revende a um preço máximo de 1.500 meticais, lucrando 150 meticais, valor que ele considerou de ínfima, mas que muda alguma coisa na sua vida.
Não se queixa das autoridades, afirmando que nem a PRM, muito menos a Polícia Municipal já perturbaram o seu negócio. Quanto ao rendimento diário, Tomás revelou que o máximo que consegue é 300 meticais de lucro, quantia que garante a satisfação das suas necessidades básicas, isto se se tiver em conta que é diário.
Américo Alexandre, 40 anos, pai de sete filhos, disse estar nesta actividade desde o distante ano de 1989, portanto, é um dos pioneiros. Dedica-se exclusivamente à venda de caixas de papel de diferentes tamanhos.
Trata-se de caixas que geralmente contém diversos produtos, desde detergentes aos alimentares.
Para Alexandre, o negócio tem sido bom de uma forma geral, mas vezes há em que se volta para casa sem qualquer tostão. Embora sejam pouquíssimas as vezes que isso acontece, é de opinião que este tipo de situações abalam psicologicamente a pessoa, pois para “ nós esta é a única fonte de rendimento e quando as coisas não correm bem, o desespero é total”, sublinhou a nossa fonte.
Mas como arma supletiva ao negócio, recorre à “xitique” diário no qual cada elemento contribui com 100 meticais. Para ele, as finanças rotativas têm tido um contributo notável para que o seu negócio continue estável.
Quanto aos preços dos sacos são, segundo Alexandre, variáveis assim como o lucro diário, mas garante que em dias do movimento consegue pelo menos 500 meticais.
“E quando consigo este valor deixo 200 a 250 meticais em casa e outro guardo para qualquer eventualidade como, por exemplo, aquisição de novos stocks que podem aparecer imprevisivelmente”, vincou Américo Alexandre.
As palavras de Américo foram corroboradas por Albino Tomo, de 42 anos, pai de quatro filhos, para quem o negócio que faz depende exclusivamente da reacção da clientela. Para ele, estimar o que ganha por dia é difícil pois, não raras vezes fica com a mercadoria semanas a fio.
“Por exemplo, as caixas que tenho agora estão há duas semanas. Comprei mais algumas recentemente, o que faz com que seja complicado eu saber qual é o lucro destas ou daquelas”, esclareceu Tomo, para de seguida ajuntar que 300 a 400 meticais, é o máximo de lucro que obtém por dia.
Á semelhança de outros colegas, recorre à “xitique”, mas o dele é familiar feito uma vez ao mês no valor de 1.000 meticais. Nunca falhou o compromisso de “xitique”, segundo ele, graças ao seu negócio até que porque já conseguiu construir uma casa do tipo três no bairro Nkobe, na periferia da Cidade da Matola, para além de mandar as crianças à escola.
“Não tenho mais nada a fazer, com a idade que tenho mesmo para segurança privada é difícil eu conseguir emprego. A minha vida é esta desde 1993, são muitos anos. O negócio também tem muitos prejuízos, por exemplo, em dias de chuva as caixas molham-se e o nosso investimento torna-se nulo”, lamentou o nosso interlocutor.