O Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) expressou a sua preocupação face aos níveis alarmantes de violência em alguns distritos da província de Cabo Delgado, Moçambique.
Até ao final de Agosto deste ano, foram registados mais de 500 ataques cometidos por grupos terroristas.
Em comunicado, a OCHA sublinhou que a violência na referida província está prestes a alcançar um recorde este ano, levando a ONG Médicos Sem Fronteiras a suspender as suas actividades no distrito de Mocímboa da Praia, em virtude de questões de segurança.
Os ataques, conforme indicado pela OCHA, ocorrem através de dispositivos explosivos improvisados, sendo orquestrados por grupos armados não estatais, visando a população civil. Em consequência destes actos, organizações humanitárias informaram que desde Agosto, 20.181 pessoas, incluindo mais de 10.000 crianças, passaram a estar deslocadas.
O relatório destaca que a violência civil está a caminho de um novo pico em 2025, com 519 ataques registados até Agosto, em comparação com 448 em 2022. Este número poderá ser ainda superior, uma vez que existem deslocamentos adicionais que não foram contabilizados, e muitas pessoas permanecer nas suas comunidades, fugindo para a mata e regressando assim que as condições de segurança o permitirem ou procurando abrigo em outras localizações.
A OCHA assinalou que a prestação de ajuda humanitária diminuiu significativamente nas áreas de deslocamento, especialmente no sul de Cabo Delgado. Apesar de alguns parceiros estarem a fornecer assistência nas regiões de Mueda, Muidumbe, Ancuabe, Balama e Montepuez, muitos distritos permanecem sem apoio. A necessidade de um financiamento mais flexível foi realçada.
Segundo a nota, as forças de defesa e segurança moçambicanas interceptaram, a 25 de Setembro, um grupo armado no distrito de Eráti, na província vizinha de Nampula, resultando na detenção de um dos membros. Em represália, os terroristas terão assassinado um civil, cujo corpo foi encontrado ao longo do rio Lúrio. Os ataques em Membana, a 26 de Setembro, resultaram em múltiplos sequestros e na destruição de habitações e infraestruturas públicas, incluindo uma escola e um centro de saúde na comunidade de Pavala.
A organização lembrou ainda que os ataques, em Abril passado, alastraram à província de Niassa, onde os terroristas invadiram a Reserva de Niassa e o Centro Ambiental de Mariri, no distrito de Mecula. O Estado Islâmico reivindicou a responsabilidade pelo sequestro de um casal no distrito de Marrupa a 22 de setembro, tendo a mulher sido posteriormente libertada.
A Organização Internacional para as Migrações (OIM) reportou que o número total de deslocados devido aos recentes ataques de grupos terroristas em Cabo Delgado aumentou para 5.770, abrangendo os distritos de Muidumbe, Mocímboa da Praia e Montepuez.