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Parque Nacional de Banhine reinicia ciclo da vida selvagem com introdução de novas espécies

O Parque Nacional de Banhine, situado na província de Gaza, no sul de Moçambique, deu início a uma fase significativa de revitalização da sua fauna.

Esta operação histórica envolve a reintrodução de 400 animais de várias espécies, marcando o começo de um abrangente plano de restauração dos ecossistemas locais.

Até ao final do próximo ano, está previsto que o parque receba aproximadamente 1.100 animais provenientes de outras áreas de conservação, incluindo o Parque Nacional de Maputo, onde a população animal já alcançou níveis ecológicos sustentáveis.

A confirmação deste empreendimento foi feita pelo administrador do parque, Abel Nhabanga, em entrevista à AIM, no contexto da reintrodução de centenas de animais e novos investimentos que visam transformar Banhine numa das áreas de conservação mais promissoras do sul do país. Nhabanga declarou: “Estamos a viver um momento histórico. O Banhine foi em tempos conhecidos como o Pequeno Serenguete, pela sua extraordinária diversidade de habitats e vida selvagem. Hoje, estamos a dar os primeiros passos para recuperar essa glória perdida.”

A operação está a ser coordenada pela Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC) e pela Peace Parks Foundation, com o apoio da ComON Foundation e da German Postcode Lottery. O programa de restauração ecológica está avaliado em 350 mil dólares e inclui a criação de um santuário de fauna com uma área de seis mil hectares, que contará com furos de água, represas e cercas seguras, garantindo assim a sobrevivência das espécies reintroduzidas e reforçando o ecossistema.

Dentre os animais reintegrados encontram-se zebras, cocones (boi-cavalo), pivas, changos e impalas, espécies que haviam sido extintas da região. Nhabanga salientou que “estudos de viabilidade mostraram que o Parque tem condições ambientais favoráveis para acolher estas espécies e garantir o equilíbrio entre herbívoros e predadores”.

Com uma extensão de 7.256 km², o Parque Nacional de Banhine é essencial para aves migratórias, devido às suas zonas húmidas sazonais, e desempenha um papel crucial na interligação dos corredores de fauna entre os parques do Kruger, Limpopo e Zinave. Nhabanga alertou que “sem o Banhine, esses parques ficariam isolados, e a conservação em escala de paisagem fracassaria”.

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Nos últimos anos, o parque tem implementado melhorias, incluindo a construção de novas infraestruturas, a formação de fiscais e o desenvolvimento comunitário. Em 2024, foram acrescentados 35 novos fiscais, entre os quais 17 mulheres, com o intuito de reforçar a protecção e patrulha das zonas críticas. Censos aéreos realizados em 2023 indicaram o regresso de elefantes, búfalos e predadores, revelando assim o renascimento do ecossistema.

Apesar dos avanços, o parque enfrenta desafios significativos, em especial a escassez de água, característica do clima semi-árido da região. “Não temos rios permanentes. Por isso, precisamos fazer furos e construir represas para garantir a sobrevivência dos animais durante a estação seca”, afirmou Nhabanga.

O turismo sustentável é um dos focos principais, visto como um motor para receitas e inclusão social. O administrador explicou que “o aumento da fauna vai atrair mais turistas, principalmente nacionais, trazendo benefícios directos para as comunidades, que recebem 20% das receitas geradas pelo Parque”. Banhine já conta com zonas de campismo e está disponível para novas concessões privadas, visando o desenvolvimento de infraestruturas turísticas, alinhadas com o modelo de turismo baseado na natureza promovido pelo Governo.

A área do parque abrange quatro distritos vizinhos — Mapai, Mabalane, Chigubo e Massingir — e interage com mais de 15 comunidades que dependem, em parte, dos recursos naturais da região. A administração trabalha no diálogo e na implementação de projectos comunitários para mitigar o conflito entre humanos e fauna bravia.

Nhabanga concluiu que a meta é “tornar o Parque auto-suficiente, capaz de cobrir entre 15 e 20% dos seus custos operacionais através do turismo e de actividades sustentáveis”, assinalando também a necessidade de reduzir a caça furtiva, controlar queimadas descontroladas e reforçar a educação ambiental junto das comunidades.

Com a fauna a crescer, novos investimentos e o renascimento do esplendor natural que outrora lhe conferiu o título de Pequeno Serenguete, o Parque Nacional de Banhine emerge como um símbolo da conservação, onde o equilíbrio ecológico, o turismo e o desenvolvimento comunitário se aliam em direcção a um futuro sustentável.