Tal facto vai ocorrer depois que pesquisas pioneiras em África que, desde há dois anos, vem sendo conduzidas pelos pesquisadores do Instituto de Investigação Agronómica de Moçambique (IIAM), em coordenação com técnicos da República Popular da China, concluíram que o cajueiro velho pode voltar a produzir a partir de um processo de renovação da respectiva copa, com destaque para aquelas plantas cujo nível de desenvolvimento no primeiro ano de produção atingiram, em média, 3,5 quilogramas de castanha de caju.
O parque cajuícola nacional é dominado por plantas com mais de duas décadas de idade e, quando assim, a sua produção regista níveis relativamente baixos de rendimento. E numa altura em que decorre, à escala nacional, o processo de plantio de novos clones tolerantes a doenças e pragas, não restava outra alternativa ao produtor senão o abate das plantas velhas que são, posteriormente, conduzidas à indústria rural de transformação da matéria em combustível lenhoso para fins domésticos.
Ciente do desperdício que tal prática representa, o governo financiou o desenvolvimento de pesquisas por parte do IIAM visando apurar a utilidade que o cajueiro velho pode dar no processo de produção da castanha de caju. O estudo, que conta com a colaboração de técnicos chineses ligados a área do caju iniciou, em meados de 2011, tendo como palco o Centro de Desenvolvimento do Caju, em Nassuruma, distrito de Meconta, em Nampula.
Américo Uaciquete, Coordenador do Programa de Investigação do Caju no IIAM explicou os caminhos adoptados no quadro das pesquisas para se chegar às conclusões agora divulgadas. “Primeiro passo passa pela renovação da copa do cajueiro velho, processo que consiste no corte da copa à qual se deve deixar crescer novamente sobre a mesma planta”- disse.
No decurso das pesquisas constatou-se, entretanto, que o processo de corte exige conhecimentos técnicos específicos. Para tal foi desenvolvido um programa de treinamento visando os produtores de castanha de caju no sentido de facilitar a adopção desse pacote tecnológico.
“Na avaliação relativa à assimilação dos conhecimentos confrontamo-nos com resultados desoladores, ou seja, apenas um por cento dos produtores treinados assimilou os conhecimentos sobre os procedimentos para o corte e tivemos que fazer mais pesquisas para identificar outros caminhos simplificados”- explicou Américo Uaciquete.
Na procura da simplificação de procedimentos foi privilegiado o conhecimento de quando e como podar os cajueiros velhos para obtenção de novos clones a partir da copa renovada. Igualmente, as pesquisas concluíram que as podas dos cajueiros velhos devem ser efectuadas logo após o período de colheita de castanha que acontece entre Novembro e Dezembro e, o mais tardar, em Janeiro.
“O corte deve acontecer ao nível dos ramos primários e depois surgem novos rebentos que fazem uma copa abundante e fechada. Porque, geralmente, rebentam muitos ramos é necessário cortar e deixar no máximo de dois emergentes que demonstram ser mais vigorosos. Estes formam, posteriormente, uma nova planta que deve passar pelo maneio com produtos químicos. Um facto importante é que este processo deve acontecer em Março de cada ano”- disse Uaciquete.
Perguntamos ao investigador quais os resultados visíveis que foram produzidos a partir dos novos clones produzidos a partir de cajueiros velhos e, em resposta, disse que no primeiro ano de produção eles atingem os 3,5 quilogramas de castanha, em média, havendo a observar o facto de o rendimento variar de acordo com o tamanho do caule original, ou seja, quanto maior for o diâmetro do caule, maior é também o volume de castanhas. O rendimento dos cajueiros em processo de produção, neste momento, à escala nacional é de cerca de 12 quilogramas por cada.
Os estudos subsequentes vão permitir determinar se o volume de produção de castanha por planta varia à medida que a idade do clone vai subindo mas, um dado certo, segundo Américo Uaciquete, é de que os resultados das pesquisas em curso constituem um forte contributo aos esforços em curso por parte do governo, inscrito no segundo Plano Director do Subsector do Caju na componente de rejuvenescimento do parque cajuícola nacional visando atingir a cifra de 200 mil toneladas de castanha de caju em 2020.
Disponibilidades de Insumos Novo Desafio
Todo o processo que envolve a produção de novas mudas de cajueiro a partir de plantas velhas exige um novo pacote tecnológico que, segundo Américo Uaciquete, está disponível no mercado dos países produtores de insumos agrícolas, havendo, por isso, necessidade das autoridades competentes começarem a esboçar planos visando a sua importação.
O chefe da equipe de investigadores que incluiu nutricionistas de solo, especialistas em pragas e doenças de plantas e da agro técnica do caju, disse ser imperiosa a utilização de motosserra de lança longa para o processo de poda de cajueiros velhos visando obter clones novos.
“O corte manual da copa do cajueiro para obtenção de clones vigorosos consome, no mínimo, uma hora por se tratar de um processo delicado que exige perícia e paciência, mas o uso da motosserra de lança longa gasta apenas dez minutos executando o mesmo trabalho”- disse Uaciquete.
A adopção dos pacotes tecnológicos para o maneio de clones a partir do cajueiro velho vai trazer múltiplas vantagens no seio das comunidades, conforme considerou o nosso entrevistado que dá o exemplo do que acontece em relação à rede de serviços criada pelos pulverizadores da cultura contra as pragas.