O nascimento da segunda filha, em cima da varanda de uma residência no 3o bairro, onde ela se encontrava refugiada, dado que as águas das cheias chegaram a atingir pouco mais de dois metros de altura naquela área é, no seu entender, prova divina de que, apesar das cheias, Chókwè é uma terra abençoada.
A bênção, segundo Lurdes, mulher de 25 anos de idade, reside no facto de, nas inesquecíveis cheias de 2000, que também fustigaram Chókwè, uma mulher ter gerado, igualmente, uma filha em cima de uma árvore. Trata-se da menina Rosinha, agora com 13 anos de vida.
Segundo retrato histórico do acontecimento narrado por Lurdes, mesmo antes de as águas começarem a inundar a cidade, já sentia as dores de parto, mas julgava que se tratava de um falso alarme e que o momento certo para dar à luz estava ainda por vir.
Porém, havia, por outro lado, a necessidade de retirar os parcos bens da família para um local seguro, mas que a sua condição física já não tinha grande reserva energética para aguentar objectos de muito peso.
Uma vez que o seu marido regressou ao trabalho na vizinha África do Sul, foi auxiliada a subir a varanda de uma casa no bairro para escapar às águas que, aos remoinhos, impeliam tudo que encontrassem pela frente.
O susto e as dores cresciam em paralelo e, nessa mesma altura, a filhinha de Lurdes também procurava vir ao mundo para testemunhar a terrível “tragédia” que fustigava a sua terra natal.