Sociedade Meio Ambiente Vítimas das inudanções em Quelimane: Munícipes sem materiais para reconstrução de casas

Vítimas das inudanções em Quelimane: Munícipes sem materiais para reconstrução de casas

O facto deve-se à persistência das chuvas, uma vez que as valas onde os munícipes afectados deveriam tirar os solos para “maticar” as suas casas estão cheias de água. A cidade de Quelimane, não possui um único local onde se possa extrair solos e outros materiais para que as vítimas das últimas enxurradas possam dar corpo aos planos familiares de reconstrução das suas casas, que desabaram ou ficaram parcialmente danificadas. Este cenário está a dificultar a vida de 25 famílias, correspondentes a 130 pessoas que já abandonaram o centro de acomodação que tinha sido implantado pelas autoridades municipais no bairro Sampene, nos arredores de Quelimane, como abrigo temporário.

As famílias com posses financeiras, normalmente, recorrem à extracção de solos em Nicoadala, mas acontece que aquele distrito foi igualmente fustigado pelas cheias e estas zonas estão também inundados, tornando quase impossível a operação de extracção e transporte de areia para a cidade de Quelimane. A nossa Reportagem esteve há dias nos bairros Manhaua, Brandão, Santagua, Janeiro e Acordos de Lusaka para acompanhar o processo de reconstrução da vida das vítimas afectadas pelas inundações, mas constatou que há muitas dificuldades decorrentes da persistência da queda das chuvas.

O período chuvoso está caminhar para o fim mas o desafio de restauração das suas vidas é enorme devido, fundamentalmente, pelo nível de destruição das suas casas e perca de bens. Dois meses depois, os desalojados voltaram a “chocar-se” com uma dura realidade caracterizada por casas desabadas, outras parcialmente destruídas, paredes sem solos e um saneamento horrível que poderá fazer eclodir doenças de origem hídrica, nomeadamente cólera, diarreias e malária.

Alima Omar é uma das vítimas das enxurradas e vive no bairro Brandão, próximo de uma vala de drenagem. Alima Omar é viúva e mãe de três filhos. No momento em que a entrevistamos estava a preparar-se para ir à machamba em Impurrone, cintura verde que se localiza entre Quelimane e Nicoadala. Segundo a nossa entrevistada, a prioridade neste momento são os trabalhos agrícolas para garantir o sustento da família, uma vez que não tendo dinheiro para comprar areia a partir de Nicoadala terá de esperar que as chuvas abrandem para poder tirar solos das valas de drenagem.

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Vítimas das inudanções em Quelimane: Munícipes sem materiais para reconstrução de casas

“Isso vai demorar algum tempo; como recebi comida, roupa, medicamentos e lonas plásticas doadas pelo Conselho Municipal dá para tapar as paredes enquanto espero que a vala seque completamente. Não tenho dois mil meticais para alugar um camião para trazer areia”, disse a nossa fonte, para quem a sua casa tinha ficado com o tecto destruído e a água invadiu o seu interior tendo chegado a uma altura de um metro e meio.

Sónia Candrinho é outra munícipe que perdeu totalmente a sua casa. Depois de regressar do centro de acomodação de Sampene teve de alugar uma casa, enquanto espera pela reconstrução da sua residência. A nossa interlocutora disse ter recebido do Conselho Municipal de Quelimane lonas e outros materiais, mas precisa de solos para quando começar a reconstruir a casa poder fazer o reboco com areia (maticar).

“Estou à espera que as valas vazem para depois tirar solos para “maticar” a minha casa, pois eu e o meu marido estamos a lutar agora para conseguir paus e madeira para logo no início do mês de Abril começar a fazer a casa”, disse a nossa entrevistada, para quem que neste momento os amigos da família deram uma casa de aluguer a preço simbólico.

No bairro Santagua, por exemplo, a água que tinha invadido as casas já baixou, ficando ainda por secar nos quintais. Algumas famílias deram-se ao trabalho de fazer drenos de forma a escoar as águas para as valas de drenagem e libertarem-se da imundice.

Isabel Santos, moradora do bairro Santagua, é exemplo disso. Em conversa com a nossa Reportagem, afirmou que a vida está a voltar à normalidade depois de dois meses de intensas chuvas que a obrigaram a sua família a ir ao centro de acomodação.

“Durante o período chuvoso, fomos bem tratados pelo Conselho Municipal porque tínhamos três refeições diárias, água potável, roupa e tratamento sanitário. Agora o problema está em conseguir areia para rebocar as paredes que foram limpas pelas chuvas, aqui não tenho espaço para extrair essa areia que preciso”, disse a nossa entrevistada.