Sociedade Comprar autocarros para despachar rápido e barato

Comprar autocarros para despachar rápido e barato

A empresa Municipal de Transportes Públicos de Maputo (EMTPM) acaba de anunciar o abate de 33 autocarros de transporte público por avaria, dos quais 25 de marca Yutong, adquiridos em 2007 na China. A notícia é amarga para os munícipes de Maputo e Matola, que, seguramente, verão piorar um problema que parecia ter atingido o ponto mais alto: a crise de transportes.

Os autocarros adquiridos na China, agora avariados, custaram perto de 3,5 milhões de dólares ao Estado, se considerarmos o preço de 141 mil dólares cada um.

Mas esta situação não é a primeira. em 2011, a extinta Transportes Públicos de Maputo (TPM) adquiriu 10 autocarros articulados na vizinha África do Sul, com capacidade para transportar, cada um, 160 passageiros. Estes custaram ao Estado 20 milhões de dólares e estão quase todos avariados.

Trata-se de uma má aplicação do dinheiro que o público paga em impostos. E é o próprio povo que vai sofrer pelo agudizar da crise dos transportes.

A avaria dos autocarros é um fenómeno frequente, e tem que ver com dificuldades de manutenção. Em relação aos autocarros Yutong, a falta de acessórios foi determinante para as avarias que se verificaram.

Informações indicam que, até antes da aquisição do primeiro lote, não existia qualquer agência especializada para garantir a manutenção ou fornecimento de acessórios desta marca.

Aliás, o próprio ministro dos Transportes e Comunicações acabou por admitir, em 2010, que a aquisição daquelas viaturas tinha sido um erro. “Foi uma mau negócio entre o Governo e a empresa chinesa que nos forneceu aqueles autocarros”, reconheceu, na ocasião, o governante, argumentando que o erro do executivo terá sido na fase de procurement, com particular destaque para a falta de clareza e de especificidades técnicas das viaturas compradas.

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Que Futuros para os Autocarros?

A possibilidade de os mesmos autocarros serem adquiridos por privados e virem a servir ao público é menor, porque, afinal, quem estaria interessado em comprar carros para colocar num mercado não atractivo aos investimentos nos transportes? E numa altura em que vários operadores estão a abandonar o negócio por prejuízos impostos pelo alto custo de manutenção e uma tarifa que não cobre os custos.

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Dados de 2012 disponibilizados pela Federação Moçambicana dos Transportadores Rodoviários (Fematro) indicavam que, antes do Governo retomar o licenciamento dos transportes de 15 lugares, cerca de dois mil autocarros tinham saído de operação.

Na ocasião, Luís Munguambe, actual presidente da Fematro, avançou que o sector de transporte de passageiros não se apresenta atractivo para o investimento e que os que lá ainda se encontram a trabalhar é por “cumprimento de um dever patriótico”. Ou seja, enquanto a lógica manda dizer que a fragilidade de um sector de actividade oferece oportunidades de negócio para novos operadores, na área de transportes acontece o contrário.

Ao reduzir a capacidade de resposta à crescente demanda por serviços de transportes, o abate de autocarros põe em causa uma das atribuições da EMTPM, enquanto empresa pública, que é de “elevar a taxa de cobertura urbana, explorando novas linhas, de acordo com a frota e condições das vias de acesso”.

A Crise dos Transportes

A frota dos autocarros dos TPM e dos “chapa 100” é de longe insuficiente para dar resposta ao crescimento populacional nos municípios de Maputo e Matola, ambos com população estimada em cerca de três milhões de habitantes (dois milhões em Maputo e arredores, e um milhão na Matola).

Nas duas urbes, o acesso aos transportes é um verdadeiro martírio. Gente apinhada nas paragens já não é fenómeno exclusivo das horas de ponta, é a todo o momento.

Perante o cenário e num acto de desespero, o Governo retomou o licenciamento de viaturas de 15 lugares – que tinha sido suspenso para a introdução gradual de carros de maior capacidade. As carrinhas de caixa aberta também entraram no jogo, e o problema está longe de ser resolvido.

Para minimizar o problema, o Governo chegou a tentar introduzir o projecto de massificação do uso de bicicletas e motorizadas como meios alternativos. Com efeito, em finais de 2009, o projecto foi oficialmente lançado pelo ministro dos Transportes e Comunicações, Paulo Zucula.

Em 2011, a gestão dos transportes públicos transitou para os municípios… a iniciativa caiu no esquecimento e a crise de transportes só piora!