Sociedade Meio Ambiente Gaza no pós-cheias – Construir em zonas altas ou esperar nova tragédia

Gaza no pós-cheias – Construir em zonas altas ou esperar nova tragédia

Até ao momento, assiste-se à uma azáfama no parcelamento de talhões em pontos seguros por parte das autoridades e na respectiva busca pelas comunidades, principalmente as famílias cujas casas e tudo o resto foram totalmente arrastadas pelas águas.

O receio é que esta correria seja apenas do momento, em que o drama de ver a água a invadir os quintais e levar tudo que se construiu ao longo dos anos ainda está fresco e que dentro de alguns meses, os agregados desistam de se instalar em pontos seguros e voltem para as zonas baixas dos rios no Chókwè, Guijá e Chibuto, três distritos mais afectados.

Foi assim após as cheias registadas em 2000. Houve ensaios de reassentamento dos afectados do Chókwè, em Chihaquelane, por exemplo, mas quase todos abandonaram a zona.

Entretanto, em finais de Janeiro, 13 anos depois, cerca de 80 mil residentes daquele ponto do país se viram obrigados a voltar em debandada para Chihaquelane e, não tendo construído casas, “abrigaram-se” debaixo de cajueiros com os poucos pertences que conseguiram resgatar.

A nossa Reportagem, que estivera na zona durante as cheias, voltou há dias a Chókwè, Guijá e Chibuto para acompanhar os trabalhos em curso.

Cerca de cinco mil talhões estão a ser parcelados em Chihaquelane e noutros pontos do Chókwè para, numa primeira fase, acomodar as famílias cujas residências foram totalmente destruídas pelas águas.

Contudo, a ideia é que logo que terminar a fase de emergência, que consiste no reassentamento dos que ficaram sem casas, arranque-se com o processo que deverá culminar com a atribuição de terrenos a todas que vivem em zonas susceptíveis de inundar em caso do rio Limpopo voltar a subir de nível.

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Gaza no pós-cheias - Construir em zonas altas ou esperar nova tragédia

Alberto Libombo, administrador do Chókwè, mostra-se optimista no cumprimento da orientação por parte dos seus habitantes.

No distrito de Guijá, as autoridades pretendem transferir a sede de Caniçado, bem colada à cidade do Chókwè, para Chinhacanine, uma localidade do posto administrativo de Mubanguene, que dista pouco mais de 25 quilómetros da actual base sociopolítica.

Os residentes de Caniçado serão repartidos entre duas aldeias localizadas a sete e oito quilómetros da vila-sede, nomeadamente 7 de Abril e Tomanine, num processo que deverá ter em conta a proximidade de cada um dos novos bairros com as machambas da população a ser reassentada.

Enquanto isso, Chibuto, que já reporta o reassentamento, no posto administrativo de Malehice, de pelo menos 191 famílias, pretende que cada um dos três mil agregados que estive nos centros de acomodação durante as semanas das inundações tenha uma segunda casa em pontos altos, onde deverá se refugiar em períodos de chuvas.

Uma das estratégias em implementação para que as pessoas não vendam o talhão é a assinatura de um termo no qual o beneficiário se compromete a não vender o terreno, documento a ser usado contra ele em caso de novas cheias.

Ao que constatámos, tanto as autoridades, como os afectados, principalmente os que perderam tudo, têm consciência de que é obrigatório reconstruir em zonas mais seguras sob pena de reerguer as casas e a vida nas baixas e voltar a sofrer, uma vez que por mais que passe algum tempo, os rios voltarão, um dia, a transbordar.