Para os anos seguintes, de acordo com o governador do Banco de Moçambique, Ernesto Gove, está previsto um investimento médio anual estimado em torno de 6,8 biliões de dólares destinados ao sector de extracção mineira.
Estima-se que as empresas mineiras vão atingir a sua capacidade máxima de produção e escoamento do carvão a partir de 2020, perspectivando-se, a partir dessa altura, receitas anuais de exportação acima de 10 biliões de dólares.
Falando recentemente em Lisboa, no decurso da reunião dos governadores dos bancos centrais dos países de língua portuguesa, Ernesto Gove disse acreditar que com o aumento de receitas provenientes da exportação dos recursos naturais, se vislumbra a possibilidade de ocorrerem mudanças na composição da despesa agregada, com destaque para o consumo das famílias e despesas do governo.
Para o governador do banco central, as receitas dos recursos naturais constituem uma oportunidade ímpar para o país, pois poderão contribuir significativamente nos esforços do desenvolvimento sócio-económico com destaque para o combate à pobreza actualmente em curso no país, sendo de esperar uma maior participação das despesas públicas nas despesas totais.
“Em face do horizonte promissor de influxo de divisas ao país, o Banco de Moçambique entende ser oportuno avaliar as consequências macroeconómicas, no geral, o que coloca novos desafios para a política monetária, em particular”, referiu.
Ernesto Gove prevê alguns impactos resultantes do aumento do fluxo de divisas no país, com implicações consideráveis sobre a gestão macroeconómica e sobre o crescimento económico.
Segundo a sua explicação, o primeiro impacto deriva das pressões inflacionárias em resultado do aumento da procura agregada, com destaque para o aumento do consumo das famílias e despesas do Estado, que não encontra resposta, pelo menos no curto prazo, do lado da oferta agregada de bens e serviços a nível doméstico.
“Por outras palavras, no curto prazo, a economia pode não ter capacidade de absorção destas receitas, com implicações na pressão inflacionária e agravamento do défice corrente da balança de pagamentos”, referiu numa apresentação baseada intitulado “Os Desafios da Política Monetária no Contexto da Exploração de Recursos Naturais: O Caso de Moçambique”.
Para o governador do banco central, a segunda consequência da entrada massiva de receitas de exportação de recursos naturais é a possibilidade de aumento do endividamento público, associado à forte demanda de infra-estruturas no País.
“Em períodos de alta de preços dos recursos naturais, os países que exportam estas matérias-primas obtêm vantagens de preços nos mercados internacionais. Porém, no ciclo inverso, quando os preços são negativamente afectados, estes países são confrontados com pressões para amortizarem as dívidas contraídas e o seu acesso aos mercados de capitais complica-se”.
Exploração de recursos desafia política económica
O Governador do Banco de Moçambique Gove, considera que o advento da exploração do carvão e de outros recursos minerais não renováveis coloca novos desafios à gestão macroeconómica e às políticas do Banco Central.
A entrada de capitais provocada pela exportação dos recursos minerais tem de ser acompanhada, como referiu o governador, de cautelas relativamente aos efeitos adversos da abundância de recursos naturais, também conhecido por “doença holandesa”.
A propósito da chamada “doença holandesa”, Ernesto Gove citou estratos da literatura económica nos quais se mostra que as economias que começam por um rácio elevado de exportações de recursos naturais sobre o PIB tendem a crescer de forma lenta nos anos seguintes, quando comparados aos países menos dependentes de exportações de recursos naturais.
Ainda assim e tecendo observações em relação ao caso de Moçambique, o governador acredita que o investimento na extracção dos recursos naturais vai gerar retornos positivos, especialmente no actual contexto da crise global. O que se torna necessário, asseverou, é acautelar medidas de política económica complementares para contornar os malefícios da chamada “doença holandesa”.
Moçambique apresenta um grande potencial de recursos naturais, com destaque para o gás (com reservas estimadas acima de 160 triliões de pés cúbicos), carvão (identificadas até ao momento cerca de 20 biliões de toneladas métricas) e energia eléctrica (com uma capacidade instalada de 2.075 MW). No que concerne à energia eléctrica, está projectado o aumento da capacidade de produção em mais de 6850MW.
No documento, a cuja cópia o “notícias” teve acesso, Ernesto Gove refere ainda que o investimento directo estrangeiro na indústria extractiva representou em 2011 um valor aproximado a 17%252525 do PIB moçambicano, comparado com os cerca de 5%252525 entre 2000 e 2008.
Durante o encontro de Lisboa, Ernesto Gouveia Gove passou de relance o contexto macroeconómico moçambicano, perspectivas, impactos e desafios.