O Ministério da Educação e Cultura (MEC) de Moçambique admitiu enfrentar um défice estrutural de professores que poderá agravar-se em 2026, com a previsão de ingresso de mais de um milhão e seiscentas crianças apenas no ensino primário.
Para dar resposta a esta crescente demanda, o Governo necessitaria de mais 16 mil professores, mas tem capacidade para contratar apenas 2119 docentes.
Segundo as estimativas do MEC, estão previstos 1 623 063 alunos a ingressar na 1.ª classe em 2026, num cenário já crítico de falta de professores que poderá sobrecarregar ainda mais as escolas.
Silvestre Dava, porta-voz do ministério, destacou que a actual capacidade de resposta do Estado continua aquém das necessidades reais. “O número de professores que necessitamos no sistema não tem sido aquele que desejávamos para podermos responder à demanda”, afirmou.
Em 2024, o rácio médio nacional era de 68 alunos por professor, superando o limite de 45 estipulados pela legislação. Este panorama tende a deteriorar-se em 2025 e 2026, podendo chegar aos 70 alunos por docente. Em algumas províncias, como Cabo Delgado e Nampula, há escolas onde cada professor lecciona para turmas de até 100 alunos.
Dava reconheceu que esta situação representa um grande desafio para os educadores, que se vêem obrigados a gerir turmas excessivamente grandes. Além disso, a limitação financeira é um obstáculo significativo que impede contratações em larga escala.
Os dados do MEC revelam que, para 2025, o Governo poderá contratar apenas 2119 novos professores, um número muito inferior à necessidade de 16 mil professores para o ensino primário e 8627 para o ensino secundário.
Questionado sobre o impacto de um rácio elevado na qualidade do ensino, Silvestre Dava defendeu que o número de alunos por professor não é o único factor a influenciar a qualidade. “A qualidade do ensino tem várias dimensões. O que gera qualidade é o professor. Trabalhamos com metodologias activas para que os docentes consigam lidar com turmas grandes”, explicou.
O porta-voz sublinhou ainda que o Governo não tem a intenção de interromper a expansão do acesso à educação, mesmo face às dificuldades existentes. “Se deixássemos de expandir a educação em prol da qualidade, estaríamos a elitizar o sistema e a contrariar os princípios que defendemos desde a independência”, concluiu.
O Executivo aposta na capacitação pedagógica, no reforço de metodologias participativas e na optimização de recursos humanos, com o intuito de evitar que o sonho de uma educação inclusiva se transforme num problema estrutural de qualidade.