O presidente da Coligação Aliança Democrática (CAD), Manecas Daniel, fez uma declaração contundente prometendo uma “guerra” com “ovos e tomates” pelo povo moçambicano caso a sua formação política seja excluída das eleições gerais de Outubro, acusando o governo de ter “medo” da CAD.
“Creio que o povo moçambicano, com ovos e tomates, que não são armas, vão fazer a guerra e vão vencer”, afirmou Manecas Daniel em declarações à Lusa durante uma marcha em Maputo, organizada para protestar contra a exclusão da CAD decidida pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
A manifestação reuniu centenas de pessoas, enquanto se aguarda a decisão do recurso apresentado no Conselho Constitucional (CC) para permitir a candidatura da CAD e do político Venâncio Mondlane à Presidência da República.
Manecas Daniel assegurou ter levado a questão ao Presidente Filipe Nyusi, alertando que, apesar do desarmamento da Renamo, o povo moçambicano ainda pode reagir. “Acreditam que podem abusar, que podem pisá-los. Eu acredito que não é bem assim, a população pode, a qualquer momento, com ovos e tomates, fazer uma frente, fazer uma guerra e vencer a guerra”, reforçou.
A CNE excluiu a CAD das eleições gerais de 9 de Outubro por não cumprir os requisitos legais, decisão anunciada a 18 de Julho.
No entanto, Manecas Daniel contesta esta decisão, argumentando que a CAD já concorreu em três actos eleitorais anteriores sem que lhes fossem exigidos os requisitos actuais. “Este é o quarto [eleições gerais de 9 de Outubro]. E da mesma forma nunca nos exigiram o que nos exigem hoje. E mesmo os elementos que nos dizem, averbamento [da coligação] e outros até cumprimos e mandamos para a CNE”, disse.
Para Manecas Daniel, trata-se de uma “perseguição política” pela associação da CAD a Venâncio Mondlane, ex-deputado e ex-membro da Renamo, que concorreu nas autárquicas de Maputo em Outubro, liderando protestos contra os resultados oficiais que deram vitória à Frelimo, partido no poder desde 1975. “Então, o problema não é da CAD, o problema é o facto de estarmos associados ao engenheiro Venâncio Mondlane”, afirmou.
Com a exclusão da CNE, Venâncio Mondlane, que está em campanha na Europa, fica impedido de concorrer a mais um mandato na Assembleia da República, mas mantém a candidatura à Presidência.
A CAD convocou manifestações em oito províncias do país, incluindo Maputo, onde a marcha decorreu pacificamente sob protecção policial. Manecas Daniel mostrou-se confiante de que a CAD será readmitida na corrida eleitoral, citando “sinais de mudança em todo o mundo” e esperando um número significativo de deputados após as eleições.
Centenas de pessoas, principalmente jovens, participaram na marcha em Maputo, exibindo cartazes contra a CNE e o governo. Ane Simane, de 29 anos, afirmou: “A situação no país não está boa. Há muita ‘ladroagem’, muita criminalidade, muitos problemas de sequestros. (…) Queremos uma boa governação”.
Pedro Armando, segurança de 40 anos, também participou no protesto, garantindo que “o povo não aceita” a decisão da CNE e exigindo a “reposição da verdade”. Segundo ele, “os adversários da CAD têm medo porque sabem que já perderam antes ainda de se chegar à mesa”.
As eleições gerais de 9 de Outubro em Moçambique incluem presidenciais, legislativas e para governadores e assembleias provinciais.