O ativista Alexei Navalny, que foi envenenado em agosto deste ano com o agente químico Novichok, já vinha a ser perseguido desde 2017 em múltiplas viagens, pelo menos em 17 cidades.
Foram identificados os agentes russos que tentaram assassinar Alexei Navalny, ativista que é um dos principais opositores do Governo de Vladimir Putin, e que entrou em coma ao ser envenenado com o agente químico Novichok, segundo uma investigação conduzida pela CNN e a Bellingcat, agência de investigadores independentes.
Alexei Navalny já vinha a ser seguido desde 2017 por espiões do Serviço Federal de Segurança da Federação Russa (FSB) em cerca de três dezenas de viagens que realizou até Moscovo, à semelhança de todos os membros da sua equipa, revela a investigação da CNN e da Bellingcat.
A investigação indica que um dos operacionais envolvidos na perseguição a Alexei Navalny era Oleg Tayakin, agente associado a uma equipa especializada em agentes tóxicos da federação russa que mantinha o opositor de Putin debaixo de olho. A 13 de agosto, elementos deste departamento viajaram de Moscovo para a cidade de Novosibirsk, na Sibéria, onde o ativista iria chegar no dia seguinte.
A investigação da Bellingcat e da CNN, que vasculhou numerosos dados de telecomunicações e de registos de viagens, apurou que uma mulher de 33 anos, chamada Maria Pevchikh, ligada a esse departamento da federação russa que perseguia Alexei Navalny, embarcou no voo de Moscovo para a cidade siberiana, juntamente com outros elementos da equipa especializada em tóxicos – o que esteve diretamente ligado ao facto de o principal opositor do governo russo ter sido envenenado e ficar gravemente doente, ao ponto de entrar em coma.
Segundo a CNN, a equipa especializada e que alegadamente foi responsável pelo envenenamento de Alexei Navalny era composta por médicos e especialistas em tóxicos, que geralmente viajavam em grupos de três na perseguição a Alexei Navalny, e usavam telemóveis descartáveis. O departamento é liderado por Stanislav Makshakov, que esteve à frente do Instituto Shikhany, onde nos anos 1970 foi desenvolvido o composto Novichok, utilizado no envenenamento do opositor de Putin.
Em julho, quando Alexei Navalny fez férias num hotel de Kalininegrado, também a sua mulher, Yulia, ficou doente, com sintomas de exaustão e desorientação, o que a atual investigação revela terem sido sintomas de “envenenamento ligeiro”, uma vez que três elementos da equipa da federação russa tinham viajado para a mesma cidade na mesma altura, indiciando uma perseguição planeada ao ativista.
Alexei Navalny, que se encontra a recuperar num local na Alemanha mantido sob sigilo, considerou ser “assustador” perceber que tinha sido perseguido ao longo de tantos anos pelos espiões da federação russa, na sequência do que foi revelado pela investigação da CNN e da agência independente Bellingcat.
O ativista tinha anunciado em finais de outubro, em entrevista ao canal de televisão russo Dozhd TV, que queria ver uma “investigação conduzida em território russo” sobre a sua tentativa de envenenamento. Mas, confrontado com a questão, Vladimir Putin, presidente da Rússia, limitou-se a declarar, numa reunião do Conselho Consultivo para os Direitos Humanos do Kremlin, não ver nenhum fundamento para a abertura de uma investigação sobre o envenenamento de Alexei Navalny, alegando que “não é preciso abrir uma investigação criminal de toda a vez que uma pessoa esteve prestes a morrer”.