O alastramento da covid-19, que a levou a ser declarada pandemia ainda em Março, tem feito crescer a necessidade de ajuda humanitária, mas nem por isso os valores dessa ajuda subiram na mesma proporção.
Pelo contrário, conta um relatório da britânica Development Initiatives (DI), os grandes doadores retraíram-se nos últimos meses, o que está a ter consequências um pouco por todo o mundo, mas sobretudo nos países mais vulneráveis.
A informação é avançada pela Associated Press, que teve acesso ao documento da DI, uma organização de desenvolvimento internacional que trabalha os dados da pobreza, e que tomou por base os primeiros cinco meses de 2020, quando se registaram 17 mil milhões de dólares (cerca de 15 mil milhões de euros) em compromissos de apoio. A questão é que não só esse apoio está bem abaixo dos cerca de 20 mil milhões de euros do mesmo período do ano passado, como as necessidades são agora maiores — e urgentes. E não apagam as anteriores, que vão da fome ao deslocamento forçado.
Como se não bastasse, regista a DI, os valores dizem respeito a compromissos de ajuda humanitária, e não apenas a doações já consumadas, o que significa que a realidade no terreno pode estar a ser ainda mais preocupante. Quantos destes milhões serão realmente entregues? Não é fácil fazer o rastreio.
Certo é que a retração se verifica em quase todos os grandes países doadores, como os Estados Unidos, o Canadá, ou os europeus Alemanha, França e Reino Unido. No caso deste último, a braços com outros desafios inéditos além da pandemia, a quebra é de quase 50%, segundo a informação recolhida através de uma série de instituições europeias e internacionais pela International Aid Transparency Initiative e analisada pela DI.
No mês passado, 27 organizações internacionais escreveram ao governo norte-americano a reportar como “alarmante” a situação no terreno. “Pouca ou nenhuma assistência humanitária chegou às linhas de frente desta crise no contexto mais frágil do mundo”, escreveram os responsáveis, numa carta dirigida a John Barsa, administrador interino da agência dos EUA para a ajuda humanitária.
Nessa altura, adiantava o “The New York Times”, os EUA tinham gasto uma parcela a rondar os 75% da assistência humanitária aprovada pelo Congresso, em março, para fazer face à situação provocada pela pandemia. A administração Trump tinha colocado como meta liderar a estratégia de superação da crise mundial, e viu serem aprovados no Congresso apoios no valor de 1,5 mil milhões de dólares.