Geoffrey Berman investigava elementos próximos do Presidente acusados de interferência política dentro do Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O seu afastamento levou democratas a defenderem a impugnação do secretário da Justiça William Barr.
O Partido Democrata dos Estados Unidos não abdica de ouvir Geoffrey Berman, o procurador federal de Nova Iorque demitido no sábado quando investigava acusações de interferência política da Casa Branca no Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O jornal “Financial Times” fala mesmo de “uma purga” em curso no interior desse ministério.
Em declarações no programa “State of the Union” da CNN, Jerry Nadler, o democrata que preside à comissão judicial da Câmara dos Representantes, afirmou estar “seguro” de que Berman irá testemunhar diante do Congresso — as audições ao caso começam na próxima quarta-feira. “Não sei se será quarta-feira, mas estou seguro de que testemunhará”, disse Nadler.
No mesmo sentido, outro representante democrata, Hakeem Jeffries, eleito por Nova Iorque, defendeu a importância do testemunho do procurador. “Julgo que ele tem muito a dizer sobre um padrão contínuo de caos, crise e corrupção que temos visto no Governo Trump desde o primeiro dia até hoje”, disse no programa “This Week”, da televisão ABC.
“NÃO ME DEMITI”, GARANTIU GEOFFREY BERMAN
A indignação democrata ganhou dimensão após ser conhecida a recusa de Geoffrey Berman em demitir-se. O procurador afirmou não ter “qualquer intenção” de deixar o cargo — para o qual foi designado em 2018 pelo então secretário da Justiça Jeff Sessions — e explicou que só teve conhecimento da sua saída pelo comunicado do atual secretário da Justiça, William Barr. “Não me demiti”, esclareceu.
“Pelo facto de ter declarado que não tinha qualquer intenção de se demitir, pedi ao Presidente para destituí-lo de funções a partir de hoje, e ele fê-lo”, respondeu Barr, numa carta enviada no sábado. De seguida, Berman confirmou em comunicado que “deixaria imediatamente” funções.
Na carta, o secretário da Justiça não poupou nas críticas ao procurador federal, acusando-o de ter “optado pelo espetáculo público em detrimento do serviço público”, considerou. “Está claramente estabelecido que um procurador federal nomeado por um tribunal pode ser destituído pelo Presidente.”
“MAIORIA REPUBLICANA CORRUPTA NO SENADO”, ACUSA UM DEMOCRATA
A posição de Barr colocou-o igualmente na mira das críticas. Na Câmara dos Representantes, controlada pelos democratas, Nadler acusou-o de ter travado diversas vezes “inquéritos penais, por conta de Trump”.
Nadler disse que Barr “merecia ser impugnado”, mas que um processo desses seria pura “perda de tempo” para os democratas. “Sabemos que temos uma maioria republicana corrupta no Senado que não consideraria um impeachment, independentemente das provas e dos factos”, disse.
Em comunicado, a comissão anunciou que iria “abrir imediatamente um inquérito sobre este incidente, no âmbito das investigações mais vastas sobre a inaceitável politização do Departamento da Justiça por Barr”.
O jurista Jonathan Turley, que no Congresso testemunhou contra o processo de destituição de Trump, considerou que Barr deve “explicar claramente” por que motivo afastou o procurador. Este anúncio “constitui um erro grave que apenas amplifica as inquietações sobre as motivações políticas por detrás desta decisão”, declarou o professor na universidade George Washington.
Nos dois anos e meio que esteve em funções, Berman teve em mãos casos politicamente sensíveis para Trump, envolvendo, entre outros, o seu antigo e o seu atual advogado pessoal, Michael Cohen e Rudy Giuliani, respetivamente.