O troço, de 40 quilómetros, apresenta vários cortes que impedem a circulação normal das viaturas que transportam passageiros e carga diversa, facto que levou os transportadores a agravarem os preços em mais 30 meticais, para uma população pobre e sem recursos para a sua sobrevivência.
Uma passagem que antes do corte da estrada custava 50 meticais, desde meados de Janeiro o preço subiu para 80 meticais. Os passageiros, para além de pagar aquele valor, se não quiserem descalçar, devem pagar mais 20 meticais para serem transportados nas costas por homens predispostos para o efeito que se encontram nos locais do desabamento das pontes à espera de clientes. Feitas as contas, uma única pessoa que pretende chegar a Macuse sem pasta tem de pagar 90 meticais, contra os anteriores 50 meticais.
A nossa Reportagem esteve, há dias, no distrito de Namacurra e viu, in loco, o drama de transporte que se vive no local. Ligito Maia é um dos proprietários de uma carrinha que faz o transporte de passageiros e carga entre Namacurra-Sede e Macuse. Disse que os passageiros estão a ser sacrificados, a fazer várias ligações, mas também os proprietários não têm outro recurso senão agravar o preço porque, por as suas viaturas circularem naquela estrada no estado actual, não compensa os custos de operação.
Os residentes e funcionários que trabalham em Macuse pedem, às autoridades governamentais locais, para pressionarem os empreiteiros que interromperam a reabilitação da estrada e reposição das pontes para retomarem os trabalhos com maior brevidade.
Salimo Hanane é um ancião que encontrámos na zona do corte quando saía de Macuse para Namacurra a fim de comercializar cocos. Para além da sua passagem, pagou aos homens que transportaram a sua mercadoria nas duas pontes 200 meticais e não tinha certeza se iria conseguir recuperar o valor depois das vendas. “Isto causa enormes prejuízos a todos os comerciantes”, disse Salimo Hanane para quem aquela rodovia devia beneficiar de manutenção regularmente para evitar o agravamento do custo de vida.
Alice Moisés é uma outra residente que saía de Namacurra para Macuse. Com o bebé ao colo e um saco de arroz na cabeça tentava descer toda trémula para baixo da ponte, para chegar ao outro lado. Os homens que transportam pessoas e cargas nos locais de corte puseram-se a gozar com ela e alguns proferiam palavras ofensivas do tipo “você vai morrer, é melhor pagar dinheiro para carregamos a ti e às tuas coisas”.
Foi de apalpadela em apalpadela, com os pés na água que ultrapassa a altura da cintura, que ela transpôs os obstáculos para chegar à outra ponte, onde uma viatura espera pelos passageiros. O ambiente que caracterizou a travessia dela deu a entender que a solidariedade já não existe entre os homens e logo veio à memória, a canção da cantora moçambicana, Helena Nhantumbo: Oh dinheiro, porque surgiste neste mundo?
Entretanto, na vila-sede distrital de Namacurra, abordámos o Secretário Permanente do governo local, Aburace Saide, sobre a situação. O nosso entrevistado disse ser prematuro colocar os empreiteiros no terreno porque decorre um trabalho de levantamento e mobilização de recursos para a reconstrução pós-cheias.
“Estamos sensibilizados com a situação do transporte de pessoas nos dois sentidos, mas, primeiro, precisamos de fazer o levantamento de todas as necessidades e mobilizar recursos, o que não é fácil. Em função disso, iremos ver as prioridades, mas pensamos que Macuse-Namacurra é prioridade, é um troço estratégico”, disse Aburace Saide para quem o governo está a trabalhar para a reposição do trânsito.