Com quase dois metros de altura, José da Silva Neto jogou basquetebol no clube do seu coração de sempre, o Clube de Gaza, colectividade que sob a direcção do seu grande amigo e confidente Mansur Daúde atingiu altos patamares na arena desportiva nacional que ao nível das outras disciplinas desportivas incluem, entre outras distinções, a conquista da Taça de Moçambique em futebol na década 90, na altura treinado por Joaquim Alói.
Há dias Neto acedeu receber-nos para uma conversa no seu gabinete de trabalho, onde são forjadas as grandes decisões para as mais diversificadas e inúmeras actividades que o “bom gigante” tem que dar respostas, pois ao longo das últimas seis décadas de vida aprendeu a lidar-se com elas, designadamente nas áreas comercial, de mineração, de consultoria jurídica, no desporto, no associativismo e na actividade política onde, actualmente, responde pela Comissão dos Assuntos da Legalidade, Ordem e Segurança Públicas na Assembleia Provincial.
A conciliação de todo este rol de actividades, que lhe obrigam a trabalhar horas a fio, exige da sua parte e dos seus colaboradores, que incluem a sua família, nomeadamente esposa, filhos, amigos, entre outros, uma disciplina rigorosa, uma organização e muita planificação, características que também o fazem admirar, sobretudo no seio dos gazenses.
O nosso entrevistado disse ter aprendido muito nos tempos áureos da Revolução de Moçambique, fruto da proclamação da independência nacional em 1975, período em que esteve bastante envolvido na implantação da nova ordem política, económica, social e cultural no país.
“Nessa altura tive o privilégio de fazer parte de uma vasta equipa que trabalhou para o intervencionamento do Estado moçambicano em diversas empresas então abandonadas pelos portugueses. Criámos, na altura, a Unidade de Gestão do Baixo Limpopo, a Algodoeira, Socas, Lezírias e, dentre outras responsabilidades, fomos chamados a responder pelas antigas Lojas do Povo. Foi um momento único de aprendizagem e de orgulho de ser moçambicano”, disse José Neto.
Exigente Comigo Próprio
Com o desmantelamento das Lojas do Povo, o nosso entrevistado decidiu, em 1979, dedicar-se à actividade comercial, em Xai-Xai, um trabalho que ao longo do tempo foi realizando com as funções de juiz eleito no Tribunal Judicial de Gaza.
“Dou-me tempo para organizar as minhas coisas. Sou bastante exigente para comigo próprio. Aprendi que tudo se consegue com base em muito trabalho, honestidade e entrega abnegada ao trabalho. Infelizmente, uma maneira de ser que não está sendo seguida particularmente pelos jovens que hoje querem ver tudo realizado num ápice, sem nenhum esforço para tal. Olha para a sociedade que estamos a assistir hoje. A preocupação da nossa juventude é de ter bom carro, boa discoteca, álcool e, pior ainda, o consumo generalizado de drogas pesadas. Estamos a assistir impotentes à destruição de uma geração que muito dela esperamos para dar prosseguimento ao que foi conquistado com muito esforço e sacrifício”, lamentou Neto.O nosso entrevistado disse, contudo, estar muito bem impressionado com aquilo que tem vindo a assistir, particularmente no campo, onde as evidências de se acabar com a pobreza são uma realidade nua e crua.
Segundo Neto, é lindo hoje chegar a zonas como Chicualacuala, Guijá, Massangena, Mandlakazi e noutros pontos recônditos e constatar que a vida está, efectivamente, a mudar para o melhor, graças ao financiamento dos “sete milhões” de meticais a empreendedores que estão a contribuir para o crescimento da rede comercial, pequena indústria, criação de animais de pequeno porte e produção agrícola.
“Ainda bem que foi dada esta oportunidade às pessoas e incutidas nelas a auto-estima porque, efectivamente, ninguém nasceu predestinado a ser pobre. O que falta na maior parte das vezes são oportunidades e quando elas surgem, desde que as pessoas se entreguem com determinação, os resultados obviamente que irão aparecer”, assegurou José Neto.