De acordo com uma reflexão sobre as chuvas feita por Sérgio Buque, chefe do Departamento de Análise e Previsão do Tempo no Instituto Nacional de Meteorologia, por ocasião do Dia Meteorológico Mundial recentemente assinalado, as cheias mais graves de que há memória ocorreram em 1955, 1966, 1972, 1976, 1977, 1984, 2000 e 2009.
Na óptica de Sérgio Buque, de facto houve muita chuva neste período, só que as coisas se passaram de forma diferente e trágica. A título de exemplo, segundo apontou, a região semi-árida de Gaza e Inhambane, que em média regista 350 a 500 milímetros de precipitação anual, registou mais de 600 milímetros de chuva em apenas 12 dias, isto é, mais de 600 litros por cada metro quadrado.
Entretanto, a acção do Homem terá contribuído significativamente para a tragédia sobretudo devido ao elevado número de construções implantadas em zonas de risco, a ocupação desordenada de espaços (zonas urbanas e peri-urbanas) obstruindo e destruindo alguns dos canais importantes de escoamento das águas.
Outro factor, segundo Buque, tem a ver com a ocupação de planícies de inundação, a destruição da vegetação e respiradouros, a insuficiência de infra-estruturas hidráulicas e/ou falta de manutenção, a falta de robustez do sistema de aviso prévio, aliado à deficiente rede de observações hidrometeorológicas e sistema de comunicação e/ou disseminação de informação.
De acordo com o INAM, a ligação entre as alterações climáticas e os eventos extremos do tempo reside no facto de a intensidade e frequência dos fenómenos hidrometeorológicos tenderem a aumentar.
Neste quadro, de acordo com a fonte, há necessidade de fortificar as acções de mitigação dos impactos das alterações climáticas através de medidas de adaptação, que significa ajustamentos nos sistemas naturais ou humanos em resposta a estímulos climáticos presentes ou esperados ou os seus efeitos que moderam os danos daí resultantes ou tiram partido das oportunidades.
A adaptação compreende a componente reactiva a partir de exemplos passados (eventos históricos) e proactiva, que consiste em preparar o país para eventos futuros de magnitude e frequência mais grave.
Por outro lado, recomenda-se para a necessidade de melhoria da gestão urbana e rural encontrando mecanismos que permitam a convivência entre a cidade, a agricultura e os rios.
Na óptica de Buque, o fortalecimento do sistema de observações hidrometeorológica, processamento e disseminação de informação desempenha um papel crucial na adaptação as alterações climáticas e mitigação do impacto dos eventos extremos.
O Dia Meteorológico Mundial foi estabelecido em 1960, e escolhida a data “23 de Março” para celebrar a entrada em vigor, em 1950, da Convenção da Organização Meteorológica Mundial (OMM).
O lema escolhido para 2013 é “Monitorar o Tempo para Proteger Vidas e Bens”, celebrando também os 50 anos da Vigilância Meteorológica Mundial. Este tema enaltece uma das razões de ser da OMM: A redução das fatalidades e danos causados pelos fenómenos de natureza hidrometeorológica.