Conforme a influência das moedas digitais continua a crescer, aumenta também a quantidade de conteúdo sobre criptomoedas publicado online. Desde guias de negociação a artigos sobre tecnologias de blockchain, há um fluxo constante de nova informação disponível. Contudo, a maioria encontra-se apenas em inglês.
Para os milhões de falantes de português em Moçambique, Portugal, Brasil e outras regiões, encontrar conteúdo correto e atualizado nem sempre é fácil. Estará a população falante do português desatualizada no que diz respeito à informação cripto? Analisemos.
Grande parte do conteúdo está em inglês
Tal como noutras partes do mundo, os cidadãos dos países lusófonos demonstram cada vez mais interesse pelas criptomoedas. Muitos já investem nas moedas digitais mais conhecidas, enquanto outros ainda se encontram numa fase de aprendizagem, a ponderar entrar no mercado futuramente.
Contudo, ao procurarem informações online, é frequente que iniciem a sua pesquisa em inglês. Da mesma forma, quando acompanham o mercado, é mais provável que pesquisem por expressões como “Bitcoin price” do que “preço do Bitcoin”.
Isto não significa que não exista conteúdo em português, nem que não seja possível acompanhar os preços na língua materna. Mas no que toca a guias aprofundados e às análises mais recentes, as fontes em inglês continuam a dominar. Segundo alguns relatórios, apenas 6% do conteúdo sobre cripto e Web3 está disponível em português ou espanhol.
Isto não surpreende, já que o universo cripto foi, em grande parte, construído em torno de comunidades anglófonas. As principais plataformas, corretoras e meios de comunicação especializados costumam publicar os seus conteúdos para uma audiência global, maioritariamente falantes do inglês.
Em Portugal, por exemplo, os eventos relacionados com cripto contam com especialistas de todo o mundo e realizam-se, naturalmente, em inglês. Até projetos que não têm origem em países de língua inglesa optam por comunicar sobretudo neste idioma.
Os falantes do português podem aproveitar o que conteúdo disponível na sua língua, mas muitas vezes acabam por complementar com fontes em inglês. Como a maioria dos entusiastas cripto são jovens e têm alguma familiaridade com tecnologia, estão geralmente à vontade a navegar em sites em inglês.
Ainda assim, esta situação está longe de ser ideal. Nem todos têm os conhecimentos linguísticos necessários para compreender os termos técnicos e jargão legal em inglês. Com o aumento da popularidade do Bitcoin e outras criptomoedas, a procura existe, mas é preciso que exista mais conteúdo em português disponível.
As redes sociais preenchem a lacuna
Os meios de comunicação tradicionais portugueses ainda se estão a tentar adaptar ao universo cripto. Enquanto isso não acontece, são os próprios entusiastas que criam o seu conteúdo. Muitos dos que já têm experiência em negociação recorrem às redes sociais para partilhar conhecimentos e ajudar os outros a aprender.
Os vídeos no YouTube costumam ser a primeira paragem para quem está a considerar investir. Em Portugal, no Brasil e noutras regiões de língua portuguesa há cada vez mais canais geridos por investidores que explicam como funcionam as carteiras digitais, quais as plataformas recomendadas e que moedas vale a pena considerar.
Os vídeos curtos também começam a ganhar tração. No TikTok e YouTube Shorts, os conteúdos sobre cripto têm vindo a aumentar. Ainda se encontram atrás do conteúdo em inglês, mas já há material suficiente para quem está a começar ou quer manter-se atualizado.
Canais no Discord e grupos no Telegram são outro formato de conteúdo que ajuda a eliminar esta lacuna na informação. Estas plataformas permitem que os falantes do português se conectem a outros, coloquem dúvidas e partilhem experiências, tudo isto na sua língua nativa. Mesmo quem não participa ativamente nas discussões pode beneficiar apenas por acompanhar as conversas.
No entanto, este tipo de conteúdo criado pela comunidade, ainda que possa beneficiar significativamente os investidores, tem os seus riscos – os utilizadores menos experientes acabam sujeitos a burlas e desinformação.
O impacto da barreira linguística nos investidores
Ainda que exista conteúdo em português e muitos utilizadores se sintam à vontade a ler em inglês, isto não quer dizer que a experiência seja sempre simples.
Independentemente do valor investido, comprar criptomoedas é uma decisão financeira importante. Para o fazer corretamente, é essencial compreender a própria moeda, a tecnologia subjacente e o seu potencial a longo termo. Quando esta informação está noutra língua, pequenos mal-entendidos podem originar hesitação ou erros. Alguns termos não têm tradução direta; outros podem assumir significados diferentes dependendo do contexto.
Investidores mais experientes conseguem, em geral, contornar estas dificuldades, mas, no que toca aos principiantes, pode haver mais dificuldade em ligar os pontos e tomar decisões bem informadas.
Mencionámos que a maioria dos entusiastas compreende inglês, mas isto não se aplica a todos. Quem tem um domínio mais limitado da língua pode sentir-se excluído do mercado ou perder informações importantes quando começa a investir. E, num mercado tão volátil como o da cripto, estar algumas horas atrasado em relação às últimas novidades pode ter um grande impacto.
Problemas como estes atrasam a adoção da tecnologia e criam uma barreira entre aqueles com acesso facilitado à informação e quem não consegue atravessar a barreira linguística.
Conclusão
Independentemente de haver ou não conteúdo suficiente em português, as criptomoedas continuam a ganhar popularidade em Moçambique, Portugal, Brasil e outros países lusófonos.
A barreira linguística é, de momento, um entrave, mas, conforme cresce o interesse pelo setor, é provável que mais websites e meios de comunicação se juntem à conversa. Com o tempo, isto pode ajudar a construir uma comunidade cripto mais confiante e informada em todos os países de língua portuguesa.