Joaquim Chissano afirmou que Manuel Chang deveria ter sido julgado em Moçambique para servir de exemplo no combate à corrupção. O ex-Presidente da República sublinha que não deve haver criminosos no seio da Frelimo.
A condenação de Manuel Chang, antigo ministro das Finanças, continua a ser um tema de grande relevância. Esta quinta-feira, a nossa equipa de reportagem entrevistou Joaquim Chissano, o qual, recorde-se, foi o responsável por introduzir Chang no governo, nomeando-o Vice-Ministro das Finanças durante o seu último mandato.
Para Chissano, o julgamento de Chang deveria ter ocorrido em território moçambicano. “Manuel Chang foi julgado sob uma perspectiva orientada pelos interesses americanos. Portanto, ele foi condenado. Não podemos avaliar se o julgamento foi justo ou não. Os advogados nos Estados Unidos fizeram o que puderam, e ele foi condenado. Acredito que teria sido mais educativo se a condenação tivesse ocorrido em Moçambique, como aconteceu com outros casos semelhantes, julgados aqui e as pessoas puderam aprender com isso sobre o que não se deve fazer”, afirmou.
Chissano acredita que uma condenação exemplar em Moçambique ajudaria a melhorar a imagem do país, embora não resolva todos os problemas relacionados com a corrupção. “A boa imagem do país deve ser construída por nós, moçambicanos, trabalhando juntos para vencer a corrupção. Manuel Chang envolve dados distintos de outros casos de corrupção que encontramos na sociedade. É necessário analisar todas as facetas da corrupção para realmente estarmos a avançar na direcção certa”, explicou.
No que toca à corrupção, Fernando Faustino, membro do Comité Central da Frelimo, reiterou na terça-feira (13) que Chang está a pagar pelos seus próprios erros. “Quem comete irregularidades deve ser punido e sancionado. O que aconteceu com Chang é consequência dos seus próprios actos. Isso não tem a ver com a Frelimo. Ser membro da Frelimo não dá permissão para cometer falcatruas”, declarou Faustino.
Joaquim Chissano, por sua vez, foi mais profundo na sua análise. Reconheceu a existência de criminosos dentro do partido e apresentou uma solução. “Não deve haver criminosos na Frelimo. Se houver, é necessário tomar as medidas adequadas contra esses indivíduos.”
Sobre a recente decisão de Moçambique de conceder parte do porto de Nacala ao Malawi, anunciada pelo Presidente da República na recepção de Chakwera, cuja visita termina hoje (15), Chissano considera a decisão estratégica para a economia dos dois países. “Moçambique tem a obrigação de reconhecer os países do Interior, não apenas o Malawi, mas também a Zâmbia. Iniciámos há algum tempo a aproximação e a busca de soluções para facilitar a vida dos países do Interior. O Zimbábue, apesar de ter uma distância menor para a África do Sul, ainda depende das saídas por Moçambique. Portanto, temos três países vizinhos importantes para Moçambique”, justificou.
O académico Calton Cadeado também partilha da opinião de Chissano e acredita que o acordo poderá trazer benefícios para ambos os países. “O porto não está a ser entregue ao Malawi, mas sim a cooperação económica está a ser promovida. O Malawi está a participar na nossa economia, assim como Moçambique está presente na economia malawiana. Há um projecto em curso para continuar a linha férrea, que ainda não está concluído. O Estado moçambicano, através do Presidente Nyusi, ofereceu-se para realizar as obras do outro lado devido ao reconhecimento do valor económico para Moçambique. Este acordo envolve Moçambique, Malawi e também a Zâmbia”, afirmou.
Chissano e Cadeado fizeram essas declarações após a cerimónia de atribuição do título de doutor honoris causa a Lazarus Chakwera.