O protesto dos fornecedores privados é a nível nacional, mas na prática serão as cidades de Maputo e da Matola a ressentirem-se da medida, pois é nestes dois municípios onde se localiza a maior parte dos consumidores do sistema.
O plano, dado a conhecer a menos de 24 horas da anunciada paralisação, inclui a identificação dos bairros mais afectados pela medida dos privados e a mobilização de formas de abastecimento, nomeadamente o envio de camiões cisternas e a reactivação de fontanários públicos abandonados devido à expansão de ligações domiciliárias, de acordo com Suzana Loforte, directora nacional de Águas.
Os pequenos fornecedores, que garantem a distribuição de água nas zonas periféricas dos principais centros urbanos do país reafirmaram ontem em contacto com o nosso Jornal a intenção de suspender o fornecimento do precioso líquido a partir de hoje por se sentirem lesados pelas acções do Governo.
Em meados do mês passado a Associação de Fornecedores de Água de Moçambique (AFORAMO) apresentou questões ao Governo, que uma vez não fossem resolvidas retirar-se-ia do negócio, deixando os seus declarados cerca de dois milhões de clientes à deriva.
No leque das preocupações está o facto de nos últimos anos estar-se a assistir ao que Paulino Cossa, presidente da AFORAMO, chama de “total desrespeito pelos investimentos privados”, que se traduz na elaboração de projectos públicos para as mesmas áreas servidas pelos primeiros, a destruição da tubagem na altura da montagem da rede pública, entre outras anomalias.
A associação exige que o Estado indemnize os fornecedores privados por perda dos seus investimentos e/ou clientes e por lucros cessantes em virtude da sobreposição dos projectos públicos sobre os deles.
Suzana Loforte explicou ontem em conferência de Imprensa que o Governo e a AFORAMO não se entenderam na questão da indemnização, ponto determinante para a suspensão da actividade.
Ao que ela explicou, os fornecedores de água querem ser ressarcidos por lucros cessantes num período de 15 anos e, feitas as contas, o Estado teria que pagar entre 700 mil e um milhão de dólares a cada fornecedor, num universo de cerca de 600 privados registados na associação.
Paulino Cossa disse ontem ao nosso Jornal que, definitivamente, não haverá água a partir de hoje porque faltou consenso nas questões colocadas na mesa.
“Mesmo os pontos nos quais já havíamos chegado a entendimento o Governo recuou e deu o dito por não dito. Não há mais condições de negociação. Vamos mesmo cortar a água”, disse.
Caso a ameaça se efective, muitos bairros localizados nos arredores das duas cidades ficarão sem água, uma vez que ainda não são cobertos pela rede pública, sendo a privada a única fonte do recurso.
As duas partes entraram ontem na guerra dos números de consumidores que servem. A AFORAMO garante estar a abastecer água a 60 por cento dos moradores do Grande Maputo, o que totaliza dois milhões de famílias. Entretanto, a directora nacional de água, que se mostrou pouco à vontade para discutir números, disse que a rede pública cobre actualmente 60 por cento de Maputo e Matola, havendo uma cifra de 20 por cento totalmente dependente dos fornecedores privados.
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