O anúncio do levantamento do corte de abastecimento de água foi feito pelo presidente da Associação dos Fornecedores de Água de Moçambique (AFORAMO), Paulino Cossa, falando a partir da sede da agremiação no município da Matola. Justificou o procedimento com o facto de, apesar do corte de água, os consumidores terem continuado ao lado dos provedores, tanto que iam pagando facturas e assinando contratos, sinal de apoio à sua causa.
Cerca de uma hora depois do levantamento centenas de moradores de bairros como Bagamoio continuavam a lutar pelo acesso a uma lata de água a partir de camiões-cisterna, cenários que foram cessando à medida que os membros da AFORAMO ligavam os sistemas.
A AFORAMO anunciou que doravante as suspensões do fornecimento serão intermitentes, ou seja, daqui a trinta dias voltarão a interromper a actividade por dois dias. Um mês depois a provisão do recurso será paralisada por três dias e assim sucessivamente.
A suspensão do fornecimento de água deveu-se ao fracasso do diálogo que vinha decorrendo com o Governo para a regularização do que consideram “total desrespeito pelos investimentos privados”.
O fenómeno traduz-se no facto de há alguns anos a esta parte o Governo, representado pelo Fundo de Investimento do Património do Abastecimento de Água (FIPAG), estar a expandir a sua rede de abastecimento, o que em muitas zonas do Grande Maputo, em particular, passa pela sobreposição dos projectos públicos sobre os dos privados.
A AFORAMO queixa-se ainda da vandalização da sua rede instalada com sacrifício e durante vários anos, bem como outras anomalias pretensamente cometidas pelo Estado.
Nesse sentido, exige indemnizações por perdas dos seus investimentos e/ou clientes e por lucros cessantes em virtude da sobreposição dos projectos públicos sobre os seus.
Durante a semana Suzana Loforte, directora nacional de Águas, disse que feitas as contas o valor a ser ressarcido a cada operador ronda entre 700 mil e um milhão de dólares, o que se mostra insustentável.
Entretanto, Paulino Cossa disse ontem haver tentativas de passar a imagem de que os operadores são indivíduos doutro planeta, explicando que se pegou num grande sistema e com milhares de clientes como modelo, esquecendo-se os pequenos fornecedores com 50 a 100 clientes apenas.
Joaquim Cossa, assessor do ministro das Obras Públicas e Habitação, reagiu ao retorno de fornecimento de água afirmando que era previsível, porque os privados estavam a travar uma guerra contra os seus próprios clientes com os quais têm contratos e não propriamente com o Governo.
Disse ainda que se tratou de uma paralisação incompreensível, na medida em que as duas partes, privados e Governo, estavam ainda em plenas negociações.
Cossa observou que nem todos os provedores fecharam os sistemas pelo alto sentido de respeito e consideração pela vida das pessoas, tendo sido igualmente numerosos os que mantiveram normalmente o fornecimento de água, aos quais o Governo congratula pela atitude tomada.
Acrescentou que a expansão da rede continuará e vai caber à população escolher se opta pelo servidor privado ou público.
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