O estadista moçambicano e presidente em exercício da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, Armando Guebuza, rejeita categoricamente as alegações segundo as quais a relação entre o grupo dos cinco países do BRICS e a África assenta numa nova colonização.
Falando quinta-feira a jornalistas moçambicanos que cobriram a V Cimeira do BRICS em Durban, África do Sul, Guebuza reiterou que o relacionamento entre os africanos e o BRICS é de amizade e cooperação.
“Os países africanos não andam a procura de serem colonizados. Andam a procura de amizade e cooperação. É neste quadro que nos reunimos com os BRICS”, disse o Chefe de Estado mocambicano, para de seguida acrescentar “Por isso, acredito também que os BRICS não andam a procura de colonizar. Andam a procura de reforço de relações no mercado e de cooperação e amizade com o nosso continente”.
Algumas vozes, sobretudo do ocidente, têm vindo a lançar críticas contra o grupo do BRICS, que integra os cinco países de economias emergente nomeadamente o Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, alegando que representa um tipo de “sub-imperialismo” no seu relacionamento político e económico com a África.
Guebuza contrapõe esta alegação, tendo elogiado até os resultados da Cimeira do BRICS que, que terminou Quarta-feira em Durban, África do Sul, ao sublinhar que a mesma “ foi um sucesso, porque permitiu que os cinco países, pudessem, em solo africano, trocar impressões com os dirigentes de África”.
“Sentimos que nessa troca de impressões existe um entendimento comum de que os BRICS têm um papel que podem desempenhar para acelerar o desenvolvimento das economias africanas e também para o reforço da paz, apesar de esse não ter sido o ponto dominante da troca de impressões que tivemos”, afirmou
Neste contexto, o presidente moçambicano disse acreditar que os africanos terão uma maior compreensão por parte dos BRICS, pois foram estabelecidas mais vias para o reforço dos processos de desenvolvimento no continente.
Guebuza criticou igualmente os que pensam que os BRICS poderiam ter projectos concretos para os africanos avaliarem, explicando que não era esse objectivo ao se realizar o encontro de interacção.
“Os projectos foram apresentados, mas o objectivo principal era de compreensão de que se trata de um continente em desenvolvimento”, disse o estadista moçambicano, reiterando que os africanos vão continuar a trabalhar com o grupo BRICS.
Recentemente, a directora executiva do Conselho de Negócios do NEPAD, agência de desenvolvimento da União Africana, Lynette Chen, também rejeitou as alegações do ocidente e de certas organizações em torno destas acusações reproduzidas pela imprensa internacional que chegam a anunciar a “morte prematura” do BRICS.
“É um sintoma do passado colonial africano, e o problema é que as instituições da Bretton Woods têm investido em África com muitas condições. Penso que os governos africanos sentiram-se sem forças para fazer avançar as suas exigências. E não era uma forma tradicional. O que precisa ser redefinido são os termos do compromisso desses contratos. E penso que o governo chinês está mais a vontade em os aceitar”, realçou.
Contrariando as críticas, muitos países africanos, incluindo Moçambique têm vindo a beneficiar de investimentos oriundos dos países que compõem o grupo BRICS, com destaque para a China.
Como que a testemunhar essa tendência, o comércio BRICS-África cresceu de meros oito mil milhões de dólares norte-americanos em 1990 para 166 mil milhões de dólares em 2008 e, mesmo num ano de crise como 2009, dados preliminares sustentam que houve continuidade deste crescimento que, por sua vez, contribuiu em larga escala para que África aumentasse a sua parcela no comércio global de 1,7 por cento em 2001 para três por cento em 2008.