A prática do garimpo em algumas regiões do distrito de Nacarôa, na província de Nampula, está a levar muitas crianças a abandonarem a escola.
Aliás, o garimpo também acaba por contagiar muitos pais e encarregados de educação, que decidem abandonar a prática da agricultura, aliciadas pelo lucro fácil, facto que poderá ter reflexos na taxa de analfabetismo e insegurança alimentar.
O cenário ocorre com maior incidência nas regiões de Nacope e Mahepa, localizadas a 200 quilómetros da vila sede do distrito de Nacarôa, onde muitas escolas se debatem com a falta de alunos e vastas extensões de terras aráveis permanecem ociosas, apesar do seu elevado potencial para a produção de mandioca e outras culturas.
Uma equipa do governo para monitoria da presente campanha agrícola, que recentemente trabalhou naquele distrito, escreve no seu relatório ter constatado a presença de um elevado número de crianças e camponeses de Nachere, em Nacarôa, envolvidos no garimpo.
Por isso, como recomendação a equipa incumbiu à administração local no sentido de desenvolver um trabalho de sensibilização junto da população para evitar envolver alunos na actividade de garimpo e incentivar os camponeses a valorizar mais a prática da agricultura.
A primeira vista, o garimpo poderá parecer uma solução para os problemas económicos e sociais que a maioria da população enfrenta. Contudo, a longo prazo poderá culminar com uma geração de analfabetos e bolsas de fome.
De facto, não constitui novidade a ocorrência de casos de fome ao nível daquele distrito, que já obrigaram a intervenção do governo provincial para persuadir às populações no sentido de privilegiarem a produção agrícola.
O jornal electrónico Wamphula fax apurou que, devido à actividade mineira, muitas estradas acabaram ficando esburacadas e vários cursos de água inquinados, numa altura em que os garimpeiros deveriam estar concentrados na sementeira.
Segundo a administradora do distrito, Joaquina Charles, o garimpo é feito em moldes tradicionais e, normalmente, envolve alunos e camponeses.
Neste distrito, o garimpo é feito individualmente e de forma desordenada, cujos resultados em termos económicos nem sempre são palpáveis, referiu.
Refutou ainda que a actividade esteja a comprometer a produção agrícola.
Temos aconselhado aos meninos e seus encarregados a praticarem o garimpo apenas nos tempos livres e não no período lectivo, disse a governante.
Refira-se que o governo distrital, em coordenação com a Direcção Provincial de Recursos Minerais e Energia está a trabalhar na criação de uma associação de garimpeiros, enquanto as autoridades procuram identificar um empresário com capacidade para dinamizar a actividade mineira e assim eliminar o comércio desregrado das pedras preciosas.
Em Mahepa, a reportagem do Wamphula fax entrevistou Francisco Alberto, que confirmou a existência de camponeses que abandonaram a agricultura para se dedicarem exclusivamente ao garimpo.
O que muitos de nós não sabemos é que ali perdemos grande parte do tempo em vão. Digo isso porque tenho visto pessoas a passarem mal por causa de fome, afirmou.
Alfredo Faustino, presidente da Associação Ophavela Ophuanha localizada em Makulo 2, lamentou o facto, tendo dito que são frequentes os casos de famílias desiludidas com o garimpo, pois concluíram que não mudou a sua vida.
A mineração artesanal e garimpo ilegal, que decorre em diversos distritos da província de Nampula também preocupam o governo porque não contribuem em nada para os cofres do Estado.
A prática da mineração ilegal e do garimpo é visível em muitas regiões da província de Nampula, para a extracção de pedras preciosas e semi-preciosas, ouro e materiais de construção, tais como pedra, areia, saibro e argila de cerâmica.
O impacto é visível nos distritos de Nacala-Porto, Mogovolas, Moma, Memba e Murrupula que apresentam problemas graves resultantes de escavações e abandono dos locais de extracção de minérios, provocando a erosão dos solos.
AIM