Fontes consultados pelo MMO afirmam que o país precisa se preparar para o impacto da entrada de capital estrangeiro.
Moçambique foi tomado pela febre do gás nos últimos anos. Agora o país discute os efeitos da futura entrada de recursos e suas consequências macroeconómicas. Economistas concordam que os efeitos serão mais locais e alertam para as possíveis distorções localizadas. Para prevenir isso, eles sugerem soluções para que o país não fique concentrado demais só no sector extractivo, tais como diversificação da economia e a criação dum fundo soberano.
Embora a Sasol já produza gás no país há alguns anos, o grande volume virá mesmo com as reservas da Bacia do Rovuma, o que cria uma janela de oportunidades para o País discutir o que fazer com as futuras riquezas: se pretende tornar-se uma Nigéria na África Austral ou uma Noruega na África.
Moçambique vive um período de grandes expectativas em relação a sua riqueza natural, especialmente no que gás natural diz respeito. Sua economia tem recebido atenção especial por parte dos investidores estrangeiros, os quais tem direccionado seus recursos para o país. Só a Anadarko, ENI e suas sócias no Rovuma pretendem investir no País mais de US$ 40 biliões nos próximos anos, principalmente na construção de infraestruturas para a extracção e processamento primário do gás.
Assim sendo, várias são as vozes que se levantam e questionam o impacto dessa entrada massiva de capitais estrangeiros, e as possíveis distorções que delas podem ser geradas, tais como problemas na taxa de câmbio e inflação, variáveis fundamentais para o bom desempenho da nossa economia.
No entanto, alguns economistas acreditam que essa entrada de capitais não trará distorções alarmantes para a economia nacional devido à composição destes investimentos. Segundo o economista do Banco de Moçambique Alberto Guimas, grande parte dos recursos entrará sob a forma de equipamentos que serão utilizados na extracção e processamento, tecnologias que o País não tem e, portanto, terão que ser importadas.
E, por outro lado, o fluxo de entrada acontecerá por meio do conhecimento – o know-how – detido pelos especialistas que virão ajudar na operacionalização destes projectos. Ou melhor, apenas uma pequena percentagem entrará em forma de divisas, para pagamento de salários e outros serviços inerentes às operações dos investidores.
Pressão da procura no sector imobiliário e restauração
Ainda assim, essa pequena entrada relativamente ao total de investimentos poderá criar distorções locais nas zonas em que tais projectos estarão alocados, quanto ao custo de vida, rendas, alimentação, serviços e outros.
Sobre este assunto, o economista e membro do CTA, Luís Sitoe, embora considere que o impacto será mínimo, sugere que “se há recursos que serão gerados, ou que estarão disponíveis para o governo, uma forma de minimizar ainda mais o impacto seria investir em infraestruturas de apoio a produção, investir, por exemplo, em estradas que permitem o escoamento de produtos agrícolas, em regadios agrícolas, unidades de agro-processamento, investir em coisas que irão tornar Moçambique competitivo sobretudo no sector primário”.
Sobre as distorções causadas nos locais de implementação e afins, a nível do sector imobiliário tanto quanto no sector de restauração, economistas concordam que deve se mais a pressão da procura e não muito sobre a especulação.
Ou seja, os técnicos e outros funcionários empregues neste tipo de projectos são pagos em função das condições e ou políticas das próprias empresas e não em consequência da localização, sendo assim, estes colaboradoes importam o seu próprio nível de vida para esses locais, tendo estes maiores condições de pagar, acabam exercendo pressão sobre os preços de imóveis e alimentação nestas zonas.
Sendo assim, como consequência, os preços sobem a um nível em que os jovens locais não têm como fazer face a esses níveis de preço, aumentando, assim, o custo de habitação destes. Para atenuar isso, há a necessidade de criar projectos sociais de habitação, começando pela pesquisa de melhores e mais baratas formas de construção, defende Sitoe.
Receitas provenientes do gás
O uso que o país fará das receitas com o gás e o petróleo é uma questão que ainda gera debates. “É preciso perguntar, com o petróleo e o gás em Moçambique, o que queremos? Uma Nigéria na África austral, ou uma Noruega na África?”, pergunta Sitoe.
Ainda que tenhamos várias necessidades por sanar, incluindo o próprio orçamento do estado que depende, em alguma percentagem de doações, não se descarta a possibilidade da criação dum fundo soberano, pois segundo o economista “o fundo soberano dá-nos este tempo de refletir sobre o que queremos fazer, é verdade que se tivéssemos um bilião de dólares, haveríamos de saber o que fazer com ele no dia seguinte, mas estaríamos a fazer as coisas certas? O ponto é esse, enquanto que se tu podes pensar e avaliar os impactos daquilo que queres fazer e seres seletivo para com as coisas que sejam mais importantes e que geram um efeito multiplicador para a economia, então aí estarias a fazer muito bem”.