Num raio de 20 quilómetros quadrados foram mortos 89 elefantes, nos últimos dois anos, no interior do distrito de Ancuabe, província de Cabo Delgado, onde um operador estrangeiro, Jacob Vonlandsberg, insiste em ser “familiar” dos restantes paquidermes que ainda por ali podem passar.
Naquele raio, segundo ele, ficaram três elefantes menores, de uma família que diz ter sido muito numerosa. O operador sul-africano, mas de pais quenianos, diz que esse facto faz com que os pequenos paquidermes se sintam permanentemente ameaçados, isolados e cheios de medo, de tal modo que, timidamente se fazem pelos carreiros por onde passavam os seus progenitores.
“Mas, tal como nos humanos, eles andam metidos em seus pensamentos sobre o destino que coube aos seus pais e que sabem ter sido violento, porque, provavelmente assistiram à acção criminal que o “bicho-homem” protagonizou, usando armadilhas de todo o tipo, incluindo armas de fogo”.
Porém, o operador acredita na existência de 25 elefantes, igualmente menores, em toda a extensão daquele perímetro de Ancuabe, inseguros. Os animais maiores, logo que se fazem à região, encontram a gula dos caçadores furtivos que, tal como os turistas de observação e fotografia, optam por estes, mas desta feita, para os matar, em busca dos troféus, cujo mercado se acha cada vez mais promissor, principalmente por causa da demanda nos países asiáticos.
Na estância de Taratibo, explorada por Jacob Vonlandsberg, onde turistas de todas as latitudes vinham observar animais e pássaros que nas suas paragens não acham e as vêem apenas em filmes, hoje se vive um ar fúnebre. Apenas os macacos ficaram e, uma vez a outra, se fazem ao largo, ao encontro do operador que já se considera parte da família dos animais que hoje estão a escassear.
“É uma guerra perdida, esta pela biodiversidade, principalmente da fauna bravia. Estamos a perder batalhas atrás de batalhas, tudo devido à fragilidade da lei depois que os furtivos são apanhados “diz Vonlandsberg, deixando ver as feições tingidas de uma dor não normal, entre nós, quase a lacrimejar, antes de explicar porque é que se dá muito com a fauna bravia.
“Sou filho e neto de dois senhores quenianos que eram caçadores profissionais conhecidos nesta região e por volta de 1911, o meu pai andou por este corredor do Rovuma a caçar. Eles gostavam muito de sangue, matar, matar, matar sempre, animais. Era a sua profissão. Assisti a algumas façanhas dele e quando cresci, decidi ser o contrário, defendendo os animais, quase na tentativa de rectificar os crimes cometidos pelo meu pai e avô”- diz o operador.