A Cimeira do G20 em São Petersburgo, Rússia, quinta-feira e ontem, não serviu para aproximar as grandes potencias a respeito da crise Síria. Os dois campos entrincheiram-se nas suas posições e o mundo fica à espera do parecer do Congresso norte-americano, que próxima semana vota na resolução que autoriza ou não o Presidente Barack Obama a lançar um ataque “limitado” contra o Governo de Damasco.
EUA, França, Turquia e Reino Unido continuam partidários de uma acção militar contra o Executivo sírio pelo seu alegado ataque com armas químicas que no passado 21 de Agosto passado matou, no leste de Damasco, entre 300 e 1500 pessoas consoante as fontes.
No lado oposto, a Rússia e China rechaçam uma acção de força porque não consideram provado “de forma independente” que o governo sírio seja responsável pela matança.
O Presidente Obama não cedeu à pressão russa nem aos apelos para que se dê uma oportunidade à diplomacia do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, da União Europeia nem do Papa. Os EUA e seus aliados tão pouco consideram relevante, para iniciar o ataque, o resultado das análises dos dados recolhidos no terreno pelos inspectores da ONU porque o mandato destes limita-se a determinar se houve recurso ao armamento químico e não quem foi o responsável, o ponto central em discussão.
Obama e o seu homólogo russo, Vladimir Putin, continuam, assim, distantes um do outro em relação à questão. Os dois reuniram-se ontem “por 20 ou 30 minutos”, à margem da cimeira. “Foi uma conversa construtiva, significativa e cordial. Cada um manteve as suas posições”, referiu fonte russa.
O Presidente chinês, Xi Jinping, alinhou com a Rússia sem reservas. Xi transmitiu a Obama que na crise síria só cabe uma resolução política e não recurso a um ataque militar. Não obstante, Obama já decidiu atacar. Segundo o “The New York Times” (NYT), o Presidente ordenou o Pentágono para elaborar uma lista de potenciais objectivos para que a operação seja efectiva.
A impossibilidade de contar com o aval do Conselho de Segurança da ONU para levar a cabo o ataque, ante as negativas de Moscovo e de Beijing, levam Obama a concentrar os seus esforços legitimadores no seu próprios país. A 30 de Agosto, o Presidente anunciou a decisão de procurar a aprovação do Congresso para atacar a Síria.
VOTO AINDA INCERTO
O Congresso reúne-se próxima segunda-feira e o resultado ainda é incerto, embora o Comité das Relações Exteriores do Senado tenha aprovado esta semana uma proposta de resolução que autoriza uma intervenção militar na Síria durante 60 dias com uma extensão possível até 90 dias.
Segundo observadores, há muito poucos republicanos dispostos a dar o voto de confiança ao Presidente e apoiar os seus planos de acção militar contra Damasco.
A possibilidade de infligir a Obama uma derrota que poderia afectar seriamente o seu prestígio e a sua presidência é demasiado tentadora parta alguns congressistas, entre eles muitos que apoiaram a guerra lançada por George W. Bush contra o Iraque de Saddam Hussein.
Há também congressistas que vêem o ataque contra a Síria como uma cortina de fumo para ocultar outros supostos escândalos internos, entre os quais os programas de espionagem da NSA (Agência Nacional de Segurança), que mais os preocupa.
Por outro lado, a opinião pública norte-americana pendendo contra a guerra faz hesitar muitos legisladores. Vários congressistas asseguram que, por cada chamada que recebem dos seus eleitores a favor da intervenção militar, têm 30 contra, um dado relevante a 14 meses das eleições legislativas.