Mansoor Adayfi, coordenador do Projecto Guantánamo da CAGE Internacional e ex-recluso da infame prisão, fez ecoar a voz de 15 antigos detidos em uma carta que critica a utilização contínua de Guantánamo como um centro de detenção.
Adayfi, que passou 14 anos encarcerado sem qualquer acusação, descreve o local como um “buraco negro” onde a dignidade humana é obliterada e os direitos são sistematicamente violados.
A carta, à qual a agência espanhola EFE teve acesso exclusivo, revela as experiências traumáticas de quem viveu sob a brutalidade do sistema que define Guantánamo. “Guantánamo não é apenas uma prisão: é um lugar onde a lei é distorcida, a dignidade é retirada e o sofrimento é escondido atrás de arame farpado”, afirmam os ex-reclusos. O documento clama por justiça e destaca que “ninguém merece ser atirado para um sistema criado para o apagar”.
Adayfi sublinha que o foco não deve ser apenas o tratamento dos novos detidos, mas sim a razão pela qual eles são enviados para Guantánamo. “Guantánamo é uma das maiores violações dos direitos humanos do século XXI”, insiste, abordando a problemática a partir da Sérvia.
A CAGE International, uma organização sem fins lucrativos com sede em Londres, denuncia a opressão estatal na sequência do ataque de 11 de Setembro de 2001, que resultou em cerca de 3.000 mortos.
A organização salientou que a recente decisão do ex-presidente Donald Trump de expandir a utilização de Guantánamo para alojar até 30.000 imigrantes indocumentados apenas perpetua a injustiça e nega protecção constitucional a esses indivíduos.
“Esta ordem não só permite a injustiça, como a garante”, afirmam os ex-reclusos, que alertam para os riscos de abusos em um sistema que, segundo eles, foi projectado para destruir vidas. Entre os signatários da carta estão nomes como Ahmed Errachidi, Lakhdar Boumediene, Sufyian Barhoumi, Hisham Sliti, Tarek Dergoul e Moazzam Begg, todos repatriados sem acusações.
O grupo reforça que a questão não se resume a segurança, mas sim a uma questão de poder e controlo, usando a escuridão de Guantánamo para encobrir injustiças adicionais.
Recentemente, um conjunto de 15 organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a União Americana das Liberdades Civis (ACLU), pediu ao governo dos Estados Unidos o acesso aos imigrantes detidos, numa tentativa de assegurar que os direitos humanos sejam respeitados.