Uma menina de apenas 11 anos sobreviveu três dias no mar, utilizando um colete salva-vidas e duas boias improvisadas feitas de câmaras de ar de pneus, após um naufrágio que poderá ter vitimado mais de 40 pessoas.
A criança, natural da Serra Leoa, foi resgatada na madrugada de quarta-feira, ao largo da ilha italiana de Lampedusa, conforme avança o jornal britânico The Guardian.
Segundo as informações fornecidas às autoridades, a menina estava a bordo de um barco de metal que transportava 45 pessoas e que partiu dias antes de Sfax, na Tunísia.
A embarcação enfrentou uma tempestade com ventos fortes e grandes ondas, que resultou no seu naufrágio. Em relatos emocionantes, a sobrevivente mencionou que outras duas pessoas estavam próximas dela, também lutando pela vida, mas que “o mar as levou” cerca de dois dias antes do seu resgate, e que nunca mais as viu.
A organização Compass Collective, de Alemanha, que realizou o salvamento, declarou em comunicado: “Presumimos que ela seja a única sobrevivente do naufrágio e que as outras 44 pessoas tenham se afogado”. A menina sobreviveu a várias tempestades durante os três dias em que esteve à deriva no mar.
Matthias Wiedenlübbert, capitão do barco de salvamento TROTAMAR III, descreveu o resgate como “um golpe de sorte”, uma vez que a tripulação conseguiu ouvir o pedido de ajuda da criança, apesar do barulho do motor. “Foi uma coincidência incrível termos conseguido ouvir a voz da criança”, afirmou Wiedenlübbert.
Após o inesperado salvamento, a tripulação continuou a busca por outros sobreviventes, embora sem grandes esperanças, face às condições adversas da tempestade, com ondas de 2,5 metros e ventos fortes. Apesar de estar desidratada e em estado de hipotermia, os socorristas relataram que a criança estava reactiva ao ser encontrada. Após o resgate, recebeu cuidados médicos em Lampedusa.
A situação tornou-se ainda mais trágica quando se soube que o médico que tratou da menina é irmão de uma das pessoas desaparecidas, que agora se presume morta. Nos últimos dez anos, mais de 24 mil pessoas desapareceram ou morreram na travessia entre o norte de África e Itália ou Malta, segundo a mesma fonte.
A notícia do salvamento da menina e a presumível morte de mais de 40 pessoas levaram activistas a intensificarem os seus apelos para que a Europa crie rotas seguras para refugiados. “Mesmo durante as tempestades, as pessoas são obrigadas a utilizar rotas de fuga arriscadas através do Mediterrâneo”, afirmou Katja Tempel, da Compass Collective. “É imperativo que os refugiados tenham uma alternativa segura para aceder ao sistema; afogar-se no Mediterrâneo não é uma opção”.