Internacional Militares do Burkina Faso acusados de execuções e casos de tortura

Militares do Burkina Faso acusados de execuções e casos de tortura

Execuções extrajudiciais, desaparecimentos forçados e casos de tortura por parte das forças armadas do Burkina Faso aterrorizaram este ano as comunidades do nordeste do país, segundo um relatório da organização não-governamental (ONG) Human Rights Watch (HRW).

Os atos de violência registaram-se entre fevereiro e maio em toda a província de Seno e o relatório identifica pelo menos 27 pessoas que foram sumariamente executadas ou desapareceram e depois foram mortas, a maioria delas do grupo étnico Fulani.

Combatentes extremistas islâmicos ligados à Al-Qaida e ao grupo extremista Estado Islâmico travam há cerca de sete anos uma violenta insurreição no Burkina Faso.

A violência provocou a morte de milhares de pessoas e dividiu o país, palco de dois golpes de Estado em 2022.

O relatório da ONG surge na sequência de um massacre ocorrido em abril, no qual, segundo residentes locais, as forças de segurança mataram pelo menos 150 civis em Karma, uma aldeia do norte do país, perto da fronteira com o Mali.

Instado a comentar as denúncias da HRW, um porta-voz do governo do Burkina Faso escusou-se a responder.

Segundo um relato, 10 homens da aldeia de Gangaol, todos do grupo étnico Fulani, foram arrastados nas traseiras de camiões, empurrados para fora e alvejados.

“Os soldados dispararam e eu corri. Vi os outros caírem no chão, mas continuei a correr”, disse um sobrevivente do incidente, citado no relatório da HRW.

Apenas quatro dos homens sobreviveram, dois dos quais sofreram ferimentos graves.

“Nos casos que documentámos, a maioria das pessoas que foram vítimas destes crimes eram do grupo étnico Fulani”, explicou Ilaria Allegrozzi, investigadora regional sénior da Human Rights Watch.

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O grupo étnico Fulani no Burkina Faso e no Mali tem sido acusado de colaborar com os extremistas islâmicos e, por isso, tem sido frequentemente alvo de ataques por parte das forças de segurança e outros.

O recrudescimento da violência ocorre numa altura em que o governo burquinabê se comprometeu recentemente a duplicar o número de unidades militares auxiliares voluntárias, conhecidas como VDP, para 100.000 efetivos.

“O recrutamento de VDP coincidiu com um aumento dos abusos de ambos os lados”, disse Allegrozzi.

Tal como os soldados burquinabês, atacam aldeias suspeitas de albergarem elementos extremistas, a presença de recrutadores do exército numa comunidade do Burkina Faso convida frequentemente à intimidação violenta por parte de grupos armados.

“As execuções e os desaparecimentos pelo exército do Burkina Faso não são apenas crimes de guerra, mas geram ressentimentos entre as populações visadas que alimentam o recrutamento para grupos armados”, salienta no relatório Carine Kaneza Nantulya, diretora adjunta para África da Human Rights Watch.

“O Burkina Faso deve garantir que os responsáveis pela disciplina nas forças armadas e pelos direitos dos detidos, estejam presentes durante todas as operações militares”, defende a HRW no relatório, acrescentando que as autoridades de transição devem trabalhar com o gabinete de direitos humanos da ONU para responsabilizar os infratores nas fileiras militares.