Economia Moçambique tenta acordo com credores dos “empréstimos ocultos”

Moçambique tenta acordo com credores dos “empréstimos ocultos”

Moçambique contraiu dívidas de elevado valor, mas “o desenvolvimento de uma capacidade massiva de exportação de gás natural liquefeito vai melhorar as finanças públicas”, diz agência “Fitch”.

A agência de rating Fitch considerou ontem que Moçambique vai tentar solucionar os empréstimos ocultos, depois do acordo com os credores dos títulos de dívida soberana, mas alerta que a dívida elevada dificulta um programa do FMI.

“Moçambique vai tentar um acordo sobre os valores em dívida por parte das empresas públicas, no seguimento da conclusão de uma reestruturação dos títulos de dívida soberana”, escrevem os analistas numa nota sobre a evolução dos ratings dos países da África subsaariana.

No relatório, enviado aos clientes e a que a Lusa teve acesso, a Fitch Ratings alerta também para o facto de “as dificuldades de um programa com o Fundo Monetário Internacional, que aliviariam os constrangimentos no acesso a financiamento externo, ainda são significativas por causa da dívida elevada”.

A Fitch, que recentemente tirou Moçambique da categoria de Incumprimento Financeiro, atribuindo a notação CCC, uma das mais baixas na escala, afirma que “as tensões políticas internas continuam a ser um desafio”, mas acrescenta que “a médio prazo o desenvolvimento de uma capacidade massiva de exportação de gás natural liquefeito vai melhorar as finanças públicas e o crescimento”.

Para 2020, esta agência de ‘rating’ antecipa que o rácio da dívida pública face ao PIB (Produto Interno Bruto) desça, de 101% este ano, para 93,9% do PIB, ao passo que o crescimento da economia deve acelerar para 5%.

Na região da África subsaariana, a Fitch antecipa que a média do rácio de dívida pública face ao PIB estabilize nos 55% do PIB no próximo ano, o que representa mais do dobro dos 27% registados em 2012 e uma queda de um ponto face ao valor deste ano.

“A Fitch espera que a média da dívida pública face ao PIB caia ligeiramente em 2020 para cerca de 55%, mas a forte subida anterior, de 27% em 2012, significa que há pouca margem nos orçamentos caso haja um novo choque externo ou interno”, escrevem os peritos desta agência de notação financeira.

“O número de nações africanas em que o pagamento dos juros da dívida representa mais de 20% das receitas, ainda que sem alterações face aos dois últimos anos, continua no valor mais alto desde 2000, representando um significativo risco de ‘dívida problemática’ [‘debt distress’, no original em inglês]”, acrescentam os analistas.

Na análise aos principais indicadores macroeconómicos previstos para 2020, enviado aos clientes, e que a Lusa teve acesso, a Fitch Ratings reconhece que “os países absorveram já o impacto da queda do preço das matérias-primas”, mas salientam que “a má gestão das finanças públicas, as persistentes necessidades de infraestruturas prioritárias e a pressão para melhorar os serviços públicos aumentam os riscos da evolução da dívida pública”.

Dos 19 países que a Fitch analisa na região, entre os quais estão os lusófonos Angola, Cabo Verde e Moçambique, apenas dois têm uma Perspectiva de Evolução Positiva, havendo três com uma Perspectiva Negativa, um dos quais é Angola.

Entre os 19 países analisados, a maioria está no nível B, no patamar mais baixo da escala de investimento, “o que reflecte as deficientes características estruturais, como os indicadores de governação do Banco Mundial ou o rendimento per capita e, em mais países, dívida relativamente elevada”, concluem os analistas.

Observador