O Governo e a Renamo voltam esta segunda-feira, 10 de Fevereiro, a reunir-se abertamente no Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, na 27ª. ronda de negociações, para anunciarem os avanços registados ao longo da semana passada.
Na verdade, as negociações políticas que vêem acontecendo nos últimos tempos, decorrentes de divergências entre o Governo e o principal partido da oposição, a Renamo, sobre aspectos referentes aos Órgãos Eleitorais, Defesa e Segurança, entraram a partir da semana passada num novo ciclo de encontros diários e de forma secreta, longe do olhar da imprensa.
Numa altura em que as partes falam de registo de progressos nas negociações, informações dão conta de que as delegações do Governo e da Renamo dedicaram toda a semana, inclusive o último sábado, em contactos directos, mas de forma secreta para discutirem as matérias em cima da mesa, mormente a questão do Pacote Eleitoral e de Defesa e Segurança.
Fontes próximas às delegações das duas partes foram informando ao Canalmoz, ao longo de toda a semana passada, que os encontros secretos – fora dos olhos da Imprensa – foram decorrendo diariamente na Assembleia da República, com a presença de alguns dos cinco observadores aceites pelas partes.
Tanto o Governo como a Renamo dizem que brevemente comunicarão o retorno ao Centro Internacional de Conferências Joaquim Chissano, e justificaram a realização de encontros secretos como sendo a forma encontrada para ultrapassar “a crise o mais rapidamente possível”.
Na sua publicação da semana passada, o Boletim Informativo “A Perdiz”, editado pelo Gabinete de Imprensa da Renamo, escrevia em letras grafais que “PAIRA UMA NUVEM DE ESPERANÇA SOBRE MOÇAMBIQUE”.
A mesma publicação da Renamo acrescentava que “começa-se a falar de forma substancial sobre a possibilidade do regresso do calar das armas e do início da construção de uma Paz Verdadeira, assente na Unidade Nacional e cimentada pelo mútuo respeito, como deve acontecer em uma sociedade Democrática, sem discriminações, sem exclusões, todos empenhados na construção da justiça, com paridade de oportunidades em todos os aspectos da vida nacional”.
De acordo com as mesmas fontes, dois grandes acontecimentos muito recentes terão precipitado as posições do Governo: nomeadamente a recente chegada dos homens da Renamo em Homoíne, Funhalouro, regiões que distam a poucas centenas de quilómetros de Temane e Pande, onde há o projecto de Gás Natural, constituindo uma ameaça para o pipeline que transporta o gasoduto para a vizinha África do Sul. Outro acontecimento que igualmente condicionou o rápido “aparente entendimento” entre as partes foi a escala dos mesmos homens da Renamo na região de Moatize, província de Tete, onde existe um mega-projecto de extracção de carvão.
O receio de que os homens poderiam a qualquer momento fazer explodir o pipeline, bem como inviabilizar a circulação de comboios de transporte de carvão, terão determinado a cedência do Governo, sobre a presença de cinco observadores, bem como a necessidade de revisão da Lei Eleitoral a ser depositado na Assembleia da República.
Recusas do Governo
Contudo, segundo as mesmas fontes, o Governo recusou a proposta da Renamo de inclusão na lista dos observadores: Alice Mabota, presidente da Liga dos Direitos Humanos, do constitucionalista Gilles Cistac e do padre Filipe Couto, ex-reitor da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e da Universidade Católica de Moçambique (UCM).
Pressão sobre Guebuza
Há duas semanas, ainda de acordo com as nossas fontes, pelo menos cinco multinacionais que operam em Inhambane, Tete e Cabo Delgado desdobraram-se em encontros com individualidades do Governo, inclusive com o chefe de Estado moçambicano, Armando Guebuza, a fim de manifestarem os seus receios e os possíveis riscos ou mesmo prejuízos que poderão decorrer dos eventuais ataques de homens da Renamo nas regiões onde existem mega-projectos.
Outras informações de fontes estrangeiras com investimentos em Moçambique, sobretudo na região da província de Maputo, afirmaram terem perdido desde Novembro do ano passado várias parcerias.
Receios
Nas hostes da Renamo, algumas vozes receiam que o desenrolar das negociações com o Governo de forma secreta possa vir a ser uma forma encontrada pelo executivo para ludibriar este partido. (Bernardo Álvaro)