Economia PR diz que Moçambique caminha “imparavelmente rumo à prosperidade”

PR diz que Moçambique caminha “imparavelmente rumo à prosperidade”

“Uma nação que continua a caminhar decidida e imparavelmente para a prosperidade e o bem-estar” é a avaliação que o chefe de Estado, Armando Guebuza, faz do estado geral da nação. Se no ano passado Guebuza disse que a nação estava “no caminho certo rumo à prosperidade”, este ano a caminhada tornou-se “decidida e imparável”, numa altura em que é consensual, na opinião pública, que o estado da nação piorou em várias frentes.

“Homem sábio que toca corações”

Como sempre Guebuza foi “coreanamente” aplaudido pelos deputados da Frelimo em jeito de demonstração de amor e admiração ao “guia incontestável”, enquanto a Renamo voltou a cumprir com a tradição: abandonar a sala quando Guebuza começar a falar. A demorada salva de palmas dos deputados da Frelimo foi antecedida de um elogioso discurso da presidente da Assembleia da República, Verónica Macamo, que apresentou Armando Guebuza como um “homem sábio” e que “toca corações”. E com os corações “tocados” os deputados da bancada da Frelimo interomperam 13 vezes o discurso só “grande líder”, só para aplaudir a “clarividência e sapinciê” que emenavam do discurso do Chefe de Estado.

A Imprensa só recebeu discursos às 17 horas

Mas antes do discurso em termos de conteúdo, é preciso olhar para o roteiro da produção do mesmo. É que até à hora em que Armando Guebuza chegou ao parlamento o discurso ainda estava a ser corrigido, segundo nos contou um assessor da presidência da República. Quando Guebuza chegou ao parlamento o discurso ainda não estava pronto. Havia uma versão que foi reprovada quando já ia ser entregue ao chefe de Estado. Esta mesma versão estava a circular entre os assessores mas acabou não sendo a lida pelo chefe de Estado. O discurso lido pelo chefe de Estado era único exemplar. Devido à existência de várias versões houve demora na disponibilização do discurso à Imprensa. Guebuza terminou de discursar um pouco depois das 11 horas e a presidência só disponibilizou o discurso por volta das 17 horas.

Em termos de conteúdo, Guebuza abordou quase que todas as questões candentes do País, desde a pobreza, a aquisição de meios militares, a guerra e os raptos. A corrupção não mereceu muito destaque.

A “guerra é nos vídeo games”

Sobre o espectro de guerra civil que o País atravessa, Armando Guebuza prefere culpar a Renamo por tudo quanto está a acontecer. O seu Governo não tem, curiosamente, qualquer culpa. Para Guebuza, o Governo está comprometido com a consolidação de um clima de Paz e tranquilidade traduzido pela “irreticente disponibilidade para o diálogo profícuo”.

Sobre as negociações que só produzem impasses, Guebuza acusou a Renamo de criar um conjunto de pré-condições a que apelidou de “incompreensíveis”.

Em relação à guerra em si que já vitimou mais de uma centena de pessoas, Guebuza prefere falar de “vídeo games e filmes”. Para Guebuza, “a guerra deve ser assunto de ficção científica, de vídeo games e de produções literárias e cinematográficas”, mas curiosa e tristemente Guebuza também dá ordens a militares, na sua qualidade de comandante em chefe, para atacarem não em ficção, filmes ou vídeo games mas na realidade.

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Armamento de guerra “é para dissuasão”

Sobre a compra de material bélico (camiões, armas, navios, migs), Guebuza fez uma avaliação na óptica de investimento. “Estes investimentos têm também em vista pôr cobro às violações das nossas fronteiras terrestres, marítimas e aérea e de dissuadir quaisquer pessoas ou entidades que queiram fazer do nosso território um lugar para a prática de ilícitos criminais ou colocar em risco a segurança do Estado moçambicano”.

Em relação à pobreza, Guebuza não falou muito. Apenas disse acreditar que a mesma será coroada de “êxitos” num futuro muito breve. Mas o Chefe de Estado falou da redistribuição da riqueza, debate cada vez mais aceso, por se entender que as riquezas geradas pelo País estão a beneficiar a um grupo restrito de pessoas ligadas a Armando Guebuza. Sobre essa questão, Guebuza voltou a usar a velha fórmula: pedir calma. Diz o chefe de Estado que ainda é muito cedo e que os rendimentos provenientes dos recursos minerais não podem ser distribuidos na mesma proporção que a mediatização das descobertas.

Raptos

Guebuza também falou dos raptos que assolam o País e que já se saldaram em execuções. Sobre a matéria, Guebuza disse o seguinte: “os raptos como as situações de extorsão têm merecido o devido tratamento e acompanhamento das instituições judiciárias, tendo em vista a responsabilização criminal dos autores”.

Facebook é sinónimo de distribuição de riqueza

Depois de ter vindo a público mostrar a sua aversão às redes sociais por causa das críticas que choviam à sua governação, Guebuza decidiu “descriminalizar” o Facebook e outras plataformas. Se há bem pouco tempo apelidou o Facebook de “indústria de sonhos inalcançáveis”, ontem Guebuza congratulou os moçambicanos que usam o Facebook.

Lembre-se que o Facebook contribuiu bastante para os resultados eleitorais recentes. Só que para o chefe de Estado o Facebook é fruto da “distribuição da riqueza” da parte do seu Governo: “registámos o crescimento em catadupa dos nossos compatriotas que aderem, diariamente, às redes sociais, facto facilitado pelas nossas políticas de redistribuição dos rendimentos,”.

Ou seja, em última instância graças à distribuição da riqueza (?) do Governo os moçambicanos têm o Facebook, ou computadores, telemóveis e internet para acederem à rede social mais usada no mundo.