Sociedade Bernardino Rafael ouvido pela PGR sobre violência policial pós-eleições

Bernardino Rafael ouvido pela PGR sobre violência policial pós-eleições

Bernardino Rafael, ex-comandante-geral da Polícia da República de Moçambique (PRM), compareceu perante a Procuradoria-Geral da República (PGR) em Maputo. 

A audiência decorre no contexto de uma denúncia formal apresentada pelo Centro para a Democracia e Direitos Humanos (CDD), que alega excessos na actuação policial após as VII eleições gerais, realizadas a 9 de Outubro de 2024.

Rafael chegou à PGR pouco antes das 09h00, utilizando a entrada dos fundos para evitar aos repórteres presentes. Após uma audição que se estendeu por quase nove horas, o ex-comandante segurou o mesmo percurso na sua saída.

Durante a audiência, várias viaturas semelhantes às de Rafael entraram e saíram do edifício da PGR, despertando a atenção dos jornalistas, que tentavam documentar a presença do ex-chefe policial, mas sem sucesso.

À porta da PGR, André Mulungo, activista do CDD, expressou satisfação pela decisão da PGR de ouvir Rafael. “A presença de Bernardino Rafael nesta audiência é um passo crucial para a sociedade civil, o país e os direitos humanos. Esperamos que isto não seja meramente simbólico, mas sim parte de uma agenda que busca a verdade e a responsabilização”, declarou Mulungo à imprensa.

O CDD, através de Mulungo, manifestou também a expectativa de que outros actores sejam chamados a depor. “Este caso não se limita a Bernardino Rafael, pois inclui também Nelson Rego, director-geral do Serviço Nacional de Investigação Criminal (SERNIC), visando a sua responsabilização”, acrescentou.

As alegações do CDD surgem em resposta à acção dos agentes da PRM durante as manifestações posteriores às eleições, as quais foram caracterizadas pela organização como violências contra os manifestantes, devido ao uso excessivo da força.

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As manifestações, convocadas pelo antigo candidato presidencial Venâncio Mondlane, resultaram em mais de cinquenta mortes, bem como numerosos feridos e destruição de bens públicos e privados.

Mondlane, que foi ouvido pela PGR há duas semanas, reivindica a vitória nas eleições, apoiando-se numa contagem paralela não oficial. Entretanto, o Conselho Constitucional proclamou Daniel Chapo, actual Presidente da República, como o vencedor legítimo do pleito.

Mulungo insistiu na importância de ouvir Rego, tendo em conta que elementos do SERNIC foram avistados a empunhar armas de fogo durante as manifestações. “Registaram-se situações em que pessoas não identificadas, ligadas ao SERNIC, participaram na violação dos direitos humanos. Iniciamos com Bernardino Rafael, mas esperamos que Nelson Rego e o comandante da Unidade de Intervenção Rápida também sejam convocados”, sublinhou.

O activista expressou esperança de que a audição de Rafael simbolize um trabalho imparcial por parte da PGR. “Temos fé que o processo avance. Se se está a proceder com Venâncio Mondlane e outros, é crucial que o mesmo se aplique a Bernardino Rafael. A justiça não deve discriminar”, concluiu.

Após oito anos no comando da PRM, Bernardino Rafael foi exonerado em Janeiro deste ano.