O empresário moçambicano Moniz Carsane, mais conhecido por “Manish Cantilal”, deu a cara pela primeira vez, após a acusação e consequente detenção, por alegadamente ser o mandante dos raptos. Carsane, que está em liberdade provisória após 40 dias de detenção na Cadeia Central de Maputo, diz-se inocente e vítima de perseguição por parte dos verdadeiros mandantes dos raptos.
Numa entrevista na maior parte da qual acabou banhado em lágrimas, transmitida na noite de terça-feira pela STV, Manish desafiou as autoridades moçambicanas a apresentarem provas do seu envolvimento nos raptos.
Para além de negar que seja o mandante dos raptos, Manish afirma que foi várias vezes ameaçado de morte, dentro e fora da prisão, e aconselhado a deixar o país, desde que começou o processo em que é acusado de ser mandante de quatro raptos. Carsane diz que é vítima duma “prisão encomendada”. Não revelou nomes de quem possa ter feito a encomenda.
“Recebi recados”, afirmou, referindo-se às ameaças que tem recebido, e acrescentou: “Mas eu estou aqui e quero dizer que não tenho medo de recados.”
Sobre as acusações que pesam sobre si, Manish diz que não foi investigado: “Eu não fui investigado. Mesmo quando fui detido, não sabia quais eram as acusações que pesavam sobre mim. Dizem que o SISE fez um trabalho de investigação durante três anos. Mas até aqui não existe nenhuma prova”. Acrescentou que os tais investigadores nem conhecem o seu nome oficial, pois o nome que vem no mandato de captura não é seu.
Manish, que estava acompanhado pelo seu advogado, Damião Cumbana, que ia fazendo comentários de ordem processual, disse que sempre esteve a representar a comunidade hindu nos encontros com o Governo, para encontrar soluções para estancar a vaga dos raptos, e tinha alguma informação. E isso, segundo disse, incomodou certas pessoas, cujos nomes não mencionou.Em relação à morte do Juiz da Causa, Dinis Silica, assassinado dias antes da sua libertação, Manish disse ter sido obra dos que engendraram a sua detenção.
“Fiquei a saber da morte do juiz pelo meu advogado. A mim, por razões de lógica, interessava-me o juiz vivo, pois ele era quem devia assinar a minha libertação provisória. Não compreendo como é que eu, parte interessada no processo, posso ser associado à morte do juiz”, explicou.
“Aquando da audição, o juiz disse que, pessoalmente, não conseguia encontrar nada. Mas era preciso ouvir os queixosos, e acabou concedendo um prazo muito curto à Procuradoria, de cinco, seis dias, para se fazerem essas diligências”. Carsane reafirmou várias vezes a sua incompreensão do seu próprio processo, que afirmou desconhecer totalmente até agora.
O entrevistado disse que foi várias vezes humilhado na cadeia e que a humilhação maior foi aquando da sua captura, pois voltava da lua-de-mel. “Aquilo foi uma grande humilhação perante os meus sogros”, disse, exigindo que as autoridades o investiguem. ”O SISE, a PIC, a PRM, a Interpol, por favor, estou a pedir que me investiguem”, afirmou Manish.
Entretanto, a aparição de “Manish Cantilal” e do seu advogado em entrevista, enquanto decorre o processo, está a suscitar os mais variados comentários sobre o princípio da actuação do arguido e da sua defesa, em liberdade provisória.