Politica Governo e Renamo teimam na discórdia

Governo e Renamo teimam na discórdia

Está cada vez mais difícil produzir resultados nas negociações políticas que decorrem no Centro de Conferências “Joaquim Chissano”, em Maputo. As delegações do Governo e da Renamo, reunidas na segunda-feira na 59a ronda, voltaram a não se entenderem em torno da conclusão dos termos de referência sobre a missão dos observadores militares internacionais.

Em conferência de imprensa, o chefe da delegação da Renamo, o deputado Saimone Macuiana, disse que “o ambiente não foi bom, por isso não houve consenso”.

“Viemos a esta ronda com o espírito de colaboração, mas o ambiente não foi bom, não houve consenso, porque o Governo continua a recusar a retirada das forças militares da Gorongosa, o que, no nosso entender, deixa claro que tem planos diferentes dos que estão em cima da mesa em discussão”, disse Macuiana.

A Renamo acusa o Governo de pretender continuar a perseguir o seu líder Afonso Dhlakama. Macuiana desafiou o Executivo a anunciar de viva voz uma trégua, tal como fez o líder da Renamo.

Saimone Macuiana disse que a Renamo continua firme em prosseguir com o diálogo, tendo por isso pedido a ajuda da comunidade nacional de internacional.

Por sua vez, o ministro da Agricultura e chefe da delegação do Governo, José Pacheco, disse que o Governo reiterou a razão de manter as forças no terreno.

Tal como a Renamo, que diz aceitar a proposta apresentada pelos observadores nacionais, mas que a mesma precisa de algumas emendas, o Governo considera a referida proposta abrangente, por estar assente em quatro pilares que o Executivo aceita.

O chefe da missão do Governo nas negociações acusou a Renamo de se ter apresentado nesta ronda com duas faces distintas, ao insistir na retirada das Forças de Defesa e Segurança das zonas de conflito; ao pretender que os observadores venham participar na reorganização das Forças Armadas de Defesa de Moçambique e na Polícia da República de Moçambique; ao aceitar a integração e exigir reintegração (dos que foram expurgados das FADM); ao pretender garantias da constituição dum exército único; e ao dizer que vai entregar as suas armas a uma instituição credível e apartidária.

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É que, segundo José Pacheco, no entender do Governo, as FDS não podem ser retiradas das zonas de conflito onde estão estacionadas neste momento, e não faz sentido que os observadores internacionais venham participar na reorganização das Forças de Defesa e Segurança, uma vez que elas não estão desorganizadas.

O Governo diz que a Renamo, ao falar do exército único, estaria a pretender falar da inclusão dos seus homens nos moldes de paridade e equilíbrio.

“Recomendámos à Renamo para reavaliar a proposta dos observadores nacionais e para fazermos um plano de preparação do encontro ao mais alto nível entre o Presidente da República e o líder da Renamo”, disse Pacheco.

Sobre o cerco a Afonso Dhlakama pelas FDS, Pacheco disse que elas não estão para fazer nenhum mal ao líder da Renamo, mas sim para o proteger, porque, diz Pacheco: “Parece que existem algumas alas de colarinho branco aqui na cidade e na Assembleia da República que querem manter o seu líder no sofrimento”.

Próximos do ponto de concórdia

Em declarações à Imprensa, igualmente no final da 59a ronda negocial, o reverendo Anastácio Chembeze, um dos observadores nacionais, disse que o seu grupo está a fazer o possível para procurar aproximar as partes.

“Fizemos grandes avanços que nos encorajam. Estamos próximos dum ponto de concórdia” disse o Pastor Chembeze. Explicou que é preciso ter em consideração que o processo negocial é moroso, tendo em conta as várias correntes de informação e contra-informação dentro e fora do fórum negocial.

Apelou à comunicação social para ter uma postura conciliatória, ponderada e de sensibilidade, como forma de contribuir para o processo, bem como de dar esperança aos que estão fora do fórum negocial e ao povo em geral.

As partes marcaram para segunda-feira da próxima semana, 2 de Junho, a próxima ronda, que será a 60a, para tentarem ultrapassar o impasse que já dura há mais de três meses.