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Deputado reformado em Moçambique ganha por ano o que um trabalhador agrícola ganha em trinta anos

As leis aprovadas recentemente pela Assembleia da República sobre os direitos, deveres e regalias dos Chefes do Estado e dos deputados continuam a levantar vozes de indignação por parte das organizações da sociedade civil moçambicanas, e não só, que entendem que as mordomias previstas nestes dispositivos legais são claramente absurdas se comparadas com o nível de vida da maioria dos cidadãos e “agridem de forma violenta” a materialização dos direitos humanos universalmente consagrados, os princípios de austeridade, transparência, ética do servidor público, equidade e justiça social.

Esta quarta-feira (14), mais uma vez, as OCS vieram a público argumentar com dados concretos, baseados num estudo, até que ponto são absurdas as regalias dos deputados e dos Chefes do Estado, em exercício e após cessarem funções.

O estudo apresentado em Maputo demonstra que um antigo deputado da Assembleia da República que aufere o salário mais baixo, sem se considerarem as benesses, passa a ganhar em um ano e à luz do novo Estatuto dos Deputados um rendimento de cerca de 910 mil meticais (cerca de 30 mil dólares) e um subsídio de reintegraçao de dois milhões e setecentos meticais, pago uma única vez.

Ora, um trabalhador agrícola que aufere o salário mínimo em vigor em Moçambique precisaria de 30 anos para atingir o mesmo rendimento que o ex-deputado consegue em apenas um ano.

No sector de agricultura, o salário mínimo aprovado pelo Governo em Abril passado é de 3.010 meticais. “Se no lugar de se considerar um deputado com o menor salário for considerado um Presidente da Assembleia da República, os valores são bem diferentes”, assegura o estudo. Refira-se que não é conhecido o salário base do Presidente do maior órgão legislativo.

Rendimento de PR é 1500 vezes superior ao rendimento per capita

Os valores das regalias do Presidente da República e dos deputados após os mandatos são muito superiores aos salários oficiais, regulamentados nas tabelas salariais. No caso do PR este valor equivale a 1500 vezes o actual rendimento per capita dos moçambicanos. Esta constatação, segundo as OSC, reforça de forma inequívoca as grandes penumbras existentes nas remunerações dos cargos públicos estudados.

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As regalias após os mandatos manifestam as enormes desigualdades, injustiças e utilização abusiva dos bens públicos e, portanto, concluem, constitui uma situação abusiva dos rendimentos dos cidadãos nacionais e estrangeiros que cooperam com Moçambique.

Para estas organizações, as remunerações do PR e dos deputados agridem de forma violenta a materialização dos direitos humanos consagrados universalmente e também pela Constituição da República, tais como o direito à educação, saúde e uma alimentação condiga; os princípios da equidade e justiça social, da austeridade, da transparência e da ética do servidor público. As decisões são de duvidosa seriedade e não contribuem para a moralização da política e dos políticos.

Prosseguindo, as OSC entendem que a actual política orçamental do Estado é de despesismo, na qual os incrementos na Presidência e Assembleia da República são superiores aos verificados em outros sectores considerados prioritários, nomeadamente agricultura, educação, saúde e infra-estruturas.

Marcha de indignação contra regalias

Diante das situações expostas, as OSC apelam à realização de uma marcha pacífica de demonstração de indignação contras as duas leis – Estatuto do Deputado e os Direitos e Deveres de Chefe de Estado em Exercício e após Cessação de Funções – recentemente aprovadas pela Assembleia da República, em consenso entre as três bancadas parlamentares. A marcha está marcada para esta sexta-feira (16) e irá partir da Estátua de Eduardo Mondlane até à Praça da Independência.

A sociedade civil sugere uma reforma administrativa do aparelho do Estado urgente de modo a reduzir os custos e tornar a administração mais moderna e eficiente, e que o PR, em defesa da dignidade do Estado e da sua própria honra, não promulgue as referidas leis pois aumentariam o sentimento de indignação na sociedade moçambicana, o que agravaria a actual instabilidade social e política

Recorde-se que as OSC enviaram uma carta ao PR a apelar para que este não promulgue as referidas leis. Segundo disseram esta quarta-feira, a resposta à carta ainda não foi obtida.