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Diálogo entre Governo e Renamo: Impasse nos três pontos da agenda da sessão extraordinária

O Governo e a Renamo, reunidos nesta quinta-feira em sessão extraordinária, a nona, a pedido do executivo, voltaram a cantar o mesmo refrão de há quatro semanas: “impasse”. As duas delegações, mais uma vez, não chegaram a entendimento nos três pontos que estavam em cima da mesa.

Para a sessão de ontem, o Governo trazia três pontos, nomeadamente a “desmilitarização da Renamo, a confirmação da data do encontro entre os presidentes Armando Guebuza e Afonso Dhlakama e a conclusão das actas pendentes nas sessões anteriores”.

Em Conferência de Imprensa à saída do encontro, o chefe da delegação da Renamo, o deputado e jurista Saimone Macuiana, anunciou que “realizamos uma sessão extraordinária a pedido do Governo, pensando que vínhamos adoptar os documentos e assinar as actas pendentes”, mas “surpreendentemente, o Governo veio reafirmar o que sempre vem dizendo, que não adopta o documento dos pontos apresentados pela Renamo sobre a legislação eleitoral que deve ser submetido à Assembleia da República”.

A Assembleia da República deverá reunir-se em Agosto próximo em sessão extraordinária, com oito pontos na agenda, o oitavo dos quais a revisão do Pacote Eleitoral proposto e a ser submetido pela Renamo.

O próprio executivo já deu a entender que os conteúdos do documento são consensuais por serem “claros, urgentes, oportunos e relevantes”, mas continua a negar adoptar o documento segundo exige a Renamo.

“As actas não foram assinadas. Só podemos assinar as actas depois de adoptados os documentos”, sublinhou Macuiana.

Encontro Guebuza-Dhlakama

Sobre o segundo ponto relativo ao encontro entre o presidente da República, Armando Guebuza, e o presidente da Renamo, Afonso Dhlakama, o negociador da Renamo disse que a sua delegação informou ao Governo da disponibilidade imediata do líder da Renamo em encontrar-se com o chefe de Estado moçambicano em Maputo, desde que o Governo mande retirar as Forças de Defesa e Segurança que cercam o local onde se encontra o dirigente deste partido ao redor da serra da Gorongosa, em Sadjundjira, província de Sofala. Esta é a mesma resposta que Dhlakama deu quarta-feira à Imprensa na Gorongosa.

Segundo Macuiana, outra hipótese colocada pela Renamo, para o encontro imediato caso o Governo não aceite a retirada das forças militares e paramilitares no perímetro exigido pela “Perdiz”, seria a reunião acontecer na vila de Gorongosa.

“A Renamo informou a disponibilidade imediata do seu presidente em encontrar-se com o presidente da República, para a salvaguarda dos superiores interesses do Povo moçambicano. Tudo agora depende do Governo. Queremos aqui reafirmar a disponibilidade do presidente da Renamo em encontrar-se com PR mesmo em Maputo, e para nós queremos uma dessas propostas que colocamos a funcionar”, afirmou Saimone Macuiana.

Acerca da desmilitarização dos homens da Renamo que está sendo imposta pelo Governo, o chefe da delegação do partido de Afonso Dhlakama disse que “a Renamo não nega discutir o assunto, mas coloca a questão de isso ser tratado como matéria do segundo ponto referente às Forças de Defesa e Segurança quando chegar o momento e não antes do primeiro ponto sobre o Pacote Eleitoral ter desfecho”.

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“Renamo tem exigências desajustadas”

Ainda em conferência de Imprensa à saída da sessão extraordinário, o chefe da delegação governamental, o ministro da Agricultura, José Pacheco, afirmou que o Governo não se sujeitou a submeter-se às exigências da Renamo.

“Acabamos de sair de uma ronda extraordinária de diálogo entre o Governo e a Renamo. O Governo remeteu uma carta com três pontos que deviam ser discutidos, nomeadamente desmilitarização da Renamo, a confirmação da data e o início dos preparativos do encontro entre o presidente Armando Guebuza e o líder da Renamo esta semana e a conclusão das actas pendentes nas sessões anteriores”, começou por dizer o ministro.

Prosseguindo, José Pacheco disse que “sobre o desarmamento da Renamo, a delegação da Renamo ensaiou ignorar, alegando que deve ser discutida essa matéria no segundo ponto sobre as Forças de Defesa e Segurança”; “Em relação ao encontro entre o presidente da República e o presidente da Renamo, inicialmente a Renamo dizia que não vinha para tratar deste assunto, não obstante a carta que mandamos, mas acabou dizendo que o seu presidente está disponível a encontrar-se com o PR, impondo como condição a retirada das Forças de Defesa e Segurança da Gorongosa se for o caso para o líder da Renamo se deslocar a Maputo ou o presidente da República ir à vila da Gorongosa, se o executivo não aceitar a remoção das forças militares na Gorongosa, o que achamos uma imposição desajustada e dissemos se Renamo quiser diálogo tem que ser em Maputo”, disse a fonte.

Para o Governo, ainda de acordo com José Pacheco, as forças de segurança estacionadas na Gorongosa visam garantir a segurança de pessoas e bens.

Por outro lado, o negociador-chefe do Governo admitiu a existência de divergências acerca das conclusões contidas na acta da quinta e sexta sessões, acrescentando que o executivo teria tentado persuadir a Renamo que as partes assinassem as actas referentes à sétima e oitava rondas onde há entendimentos “para os cidadãos entenderem que há progressos no nosso diálogo, que estamos a avançar, o que a contra parte não aceitou”.

A uma pergunta do Canalmoz se o Governo tem a ideia de quantos homens a Renamo tem para serem desarmados e quais os mecanismos que o executivo propõe para o desarmamento, o ministro José Pacheco respondeu de forma contraditória que “nós (Governo) até não condicionamos o desarmamento da Renamo, podemos assinar o que está em causa aqui sobretudo é fechar o Pacote Eleitoral, e não é relevante os mecanismos desse desarmamento, porque basta a Renamo aceitar para negociarmos esses mecanismo. Tal como não é relevante o local do encontro entre o PR e o líder da Renamo, desde que seja na cidade de Maputo, porque Maputo oferece excelentes condições”.

O impasse voltou a ressoar como o melhor refrão nas letras das exigências de cada uma das partes.

Canal Moz