Além de Joaquim Chissano, o evento, que junta jovens idos de diversos países africanos, conta com a participação do ex-Presidente cabo-verdiano, Pedro Pires.
Na sua intervenção durante um painel sobre Democracia e Boa-Governação em África, o antigo Presidente moçambicano disse que o Estado de direito assenta na Constituição da República, como lei fundamental, e em diversas leis específicas que devem ser cumpridas por todos.
Contudo, ele admitiu que, às vezes, surgem “confusões” em alguns países quando há grupos de indivíduos que não gostam de determinadas partes da lei. “Isso não pode”.
Por isso, Chissano defendeu a necessidade de se alterar as leis que não sejam consensuais de modo a reduzir possíveis diferenças na sociedade.
“Tem que haver uma abertura para o diálogo permanente. A criação de confiança mútua na sociedade para que as discussões sejam feitas duma maneira tranquila e harmoniosa – o que não quer dizer não contraditória. Pode ser contraditória, mas que se procure reduzir a contradição para se alcançar a harmonia”, disse.
“Nós fizemos isto na nossa governação e, como disse, eu aprendi durante a minha experiência como dirigente de várias organizações e sobretudo na Frelimo”, disse Chissano.
Segundo anotou, a obediência a essas normas constitui uma característica do Estado de direito, que por sua vez é uma característica da democracia e da boa governação.
Sobre a boa governação, o antigo estadista moçambicano disse que o mais essencial é que esta tenha o objectivo de melhorar o bem-estar da população.
“Quanto mais nós melhorarmos o bem-estar da população melhor é a boa governação. Este é o termómetro da boa-governação. Melhor ainda se a população por si própria sentir que está a viver melhor hoje do que ontem”, referiu.
Sobre o papel da juventude africana para se ultrapassar os problemas actuais, o antigo estadista afirmou que o desafio recai nos próprios jovens que, ao assumirem cargos de liderança – a qualquer nível – devem contribuir para se alcançar as metas que pretendem.
Chissano recordou que as críticas aos líderes africanos datam há mais de 50 anos – desde o início das descolonizações.
“Os líderes nunca fazem bem. Mas eu digo em 50 anos os líderes não são os mesmos. Quem são os líderes de hoje? São aqueles que foram jovens. Aqueles que quando estavam na escola fizeram marchas, manifestações contra os líderes, alguns que estavam no exército fizeram golpes de Estado, mas chegados ao poder, a liderança não muda”, explicou.
O antigo estadista desafiou os jovens africanos a velarem para que todas mudanças ocorram com eficácia, criando-se as condições necessárias para se alcançar a “grande mudança almejada”.
Para tal, Joaquim Chissano indicou que em primeiro lugar é importante uma mudança de mentalidades por parte dos jovens africanos para depois identificarem identidades próprias.
Reconheceu que esses condimentos – mudança de mentalidade e identificação da identidade própria – não são fáceis de se alcançar pelos jovens num mundo globalizado como o que se vive hoje.
“A personalidade e a identidade não podem ser como a roupa que se muda frequentemente. Em cada país onde chegamos temos de saber o que somos”, disse.
“O que acontece é que a juventude, com o seu dinamismo, às vezes tem várias ideias que não se consolidam ou quando chega o momento da consolidação ainda não estão preparados para realizar a mudança desejada”, referiu a fonte.