Nacional Mia Couto apela a uma liderança pacífica em Moçambique após violência política

Mia Couto apela a uma liderança pacífica em Moçambique após violência política

O renomado escritor moçambicano Mia Couto expressou, este domingo, a sua preocupação face à crescente tensão política em Moçambique, apelando a uma liderança que rejeite a violência como solução para os conflitos sociais. 

As declarações surgem na sequência do homicídio de dois apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane, um incidente que desencadeou a convocação de uma manifestação pacífica.

Em entrevista à agência Lusa, Mia Couto enfatizou que “situações de tensão como esta apelam para uma liderança que entenda que a violência não é a solução”. O escritor sublinhou que “a qualidade de um verdadeiro líder revela-se exactamente no modo como é capaz de superar a crise a bem de todos e no interesse do país que pretende governar”.

A escalada de violência iniciou após a morte a tiro de Elvino Dias, advogado de Mondlane, e Paulo Guambe, mandatário do partido Povo Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos), na última sexta-feira, no centro de Maputo.

Venâncio Mondlane reagiu ao homicídio, convocando marchas de repúdio e citando a Bíblia para afirmar que o “sangue” das vítimas “tem de ser vingado”, responsabilizando as Forças de Defesa e Segurança (FDS) pela tragédia, prometendo apresentar provas.

Mia Couto manifestou a esperança de que as forças policiais “sejam capazes de provar a sua eficiência, sobretudo a sua isenção e credibilidade como força ao serviço da ordem pública”, destacando a necessidade de uma investigação célere e independente. O escritor reiterou a urgência de um esclarecimento transparente também no que diz respeito ao processo eleitoral, defendendo que “já não bastam percepções, já não bastam proclamações de um e de outro lado”.

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O autor, cuja voz tem ressoado fortemente no cenário nacional, considera que “a tranquilidade e a reconciliação” que Moçambique urge não poderão ser alcançadas através de tumultos ou repressão policial. “É imprescindível que se anunciem garantias de que todo este processo será conduzido de forma a reconquistar a confiança e a credibilidade”, afirmou Couto, fazendo um apelo à superação do medo e da ameaça da força.

Na véspera, o escritor havia já declarado que a actual situação de incerteza política não é do interesse de nenhum dos candidatos, alertando que o próximo presidente terá de ser uma figura unificadora, “não será apenas o dirigente dos seus adeptos partidários”. Mia Couto concluiu sublinhando a necessidade de transformar a crise nacional em oportunidade de reconciliação e paz duradoura.

A situação em Moçambique continua a ser monitorizada de perto, na expectativa de que as manifestações programadas para esta semana possam ser um passo significativo em direcção à estabilidade e à justiça no país.