“Masingita ou a Subtileza do Incesto” é título do novo livro do escritor Juvenal Bucuane a ser lançado, próxima quarta-feira, no Camões – Centro Cultural Português, em Maputo, pelas 17:30 horas.
Masingita cujos sinónimos são: muhlolo ou mahlori nas línguas bantu, particularmente a ronga e a changana, ambas do Sul de Moçambique, é plural de singita, traduzido por: milagre, maravilha, acontecimento extraordinário, facto sobrenatural.
Segundo o autor, a obra é a “ súmula, um tanto extensa, de uma notícia publicada em Junho de 2020, num dos jornais de circulação nacional, com o seguinte teor: “Mulher que engravidou de seu próprio filho, já deu à luz: (…) mulher dos seus 44 anos ficou grávida do seu próprio filho de 21 anos de idade, em Maputo, concretamente na zona de Chamanculo, em Setembro do ano passado…”, numa circunstância plenamente involuntária, para ambos e ao fim de nove meses de gestação, deu à luz um bebé que, no trato relacional social normal, seria seu neto, não fosse biologicamente seu filho, o segundo, filho de seu primogénito” .
A novela ficciona uma prática que, existindo na sociedade moçambicana, muitas vezes, é ignorada, incesto, uma união ilícita entre parentes próximos, em grau proibido por lei.
No centro da narrativa encontram-se Marta e Pepuka, que, para o autor, representam a personificação de pessoas reais. No entanto, a fim de não ferir susceptibilidades, o autor tomou o devido cuidado, ora subvertendo o perfil das personagens, ora dando-lhes existência particular. “Aliás, todas as personagens do livro são fictícias, assim como os lugares-cenários e actos.
“Passei os diferentes estágios do meu crescimento em diversos bairros suburbanos da capital moçambicana e conheço deles o bastante para poder contar como se vive nesses lugares”, disse o escritor numa recente entrevista à revista Soletras.
A escrita de “Masingita ou a Subtileza do Incesto” foi, para Juvenal Bucuane, um exercício árduo, pois o seu grande desafio estava além de uma mera ficção, “por implicar algo que me parecia profundo e verdadeiro, factual, que para ser abordado com alguma probidade, tinha de ser feito com recurso a algum caso precedente, ocorrido em alguma época e em algum lugar.
Assim busquei reminiscências do que estudei há bastante tempo sobre a antiguidade na história universal, mais propriamente, a relação entre o Rei Édipo e a Rainha Jocasta, que serviu de base para as pesquisas psicanalistas de Sigmund Freud”.
Esta novela foi escrita durante o segundo semestre de 2021, numa altura em que o escritor se encontrava confinado em casa, por causa da covid-19.
Juvenal Bucuane define “Masingita” como uma crítica, por saber que o incesto, acto abjecto, acontece no seio de muitas famílias e é consentido mesmo sabendo-se que é moralmente condenável.
“É, também, uma intervenção, pois penso que aqueles que o lerem e não se coadunarem com a sua prática, não só ficarão escandalizados com esta realidade que no livro trago, como também, cientes da corrosão que o incesto provoca no seio das famílias e em geral da sociedade, algo farão para ajudar na sua erradicação”, reforçou o escritor na mesma entrevista à Soletras.
O novo livro de Juvenal Bucuane, o seu primeiro pela Editorial Fundza, será apresentado no Camões – Centro Cultural Português em Maputo pelo jornalista e ensaísta José dos Remédios.