Os transportadores semi-colectivos de passageiros da rota Catembe-Matutuíne, na província de Maputo, agravaram a tarifa de transporte dos habituais 50 para 100 meticais, sob a justificação de péssimas condições da estrada.
Antes das últimas chuvas que assolaram a província de Maputo, uma passagem para Matutuíne custava 50 meticais. Se, por um lado, os passageiros reconhecem a intransitabilidade da via, por outro, não concordam que o preço sofra agravamento de 100 por cento. É que até carrinhas de caixa aberta, designadas como “My love”, cobram 100 meticais. Muitos desses transportes nem conseguem chegar ao destino devido à lama e aos charcos.
A situação é mais crítica nas zonas de Madjuva, Kuja e nos Quilómetros 18 e 24. A estrada, em algumas partes, é lamacenta. Noutras zonas, são autênticos charcos. Alguns troços confundem-se com terrenos de garimpo.
Devido às constantes reclamações dos passageiros, os valores são cobrados antes da partida, para evitar que os protestos dos passageiros sejam levantados a meio da viagem. O Canalmoz viu, por exemplo, o cobrador de um “chapa” de marca Toyota Hiace, com a matrícula AAW 947 MP, a cobrar antes de os passageiros entrarem no carro.
“Ouvimos dizer que os residentes de Matutuíne estavam a preparar uma greve como forma de pressionarem o Governo para reparar as estradas e obrigar os chapeiros a voltarem ao preço anterior. Por isso todos devem pagar antes de entrar”, disse o cobrador.
Troço Bela Vista – Salamanga
Da vila-sede de Matutuíne, Bela Vista, até à localidade de Salamanga são 17 quilómetros, e o preço do “chapa” são 10 meticais. Neste troço, o preço não foi agravado, mas, para apanhar um transporte, chega-se a esperar duas horas na paragem.
Os residentes da localidade de Salamanga dizem que as autoridades governamentais se esqueceram de Salamanga e acusam a Associação dos Transportadores de Matutuíne de ser inoperante.
“A localidade tem uma pedreira e um instituto. As casas feitas no tempo colonial estão a cair aos bocados. Só se lembram daqui quando é para cobrar dinheiro de preparação da recepção dum dirigente na vila. Na semana passada, estiveram aqui a fazer campanha de recenseamento eleitoral. Estamos cansados de votar em pessoas que nada fazem para desenvolver Salamanga”, desabafou Julião Mutombene, que disse que estava na paragem da ponte do Rio Maputo há uma hora e meia, à espera do “chapa” de Salamanga para Bela Vista.
Devido à influência da África do Sul e da Suazilândia, quer nos “chapas”, quer nos estabelecimentos comercias, usa-se o Rand, o Emalagueni e o Metical.
O dilema dos funcionários públicos
Os funcionários públicos, sobretudo os professores, os enfermeiros e os polícias, são os mais prejudicados. Chegam a percorrer cerca de 200 quilómetros para receberem os seus salários na cidade de Maputo. A seguir aparecem os vendedores que, para abastecerem as suas bancas, dependem de Maputo.
A situação vivida por funcionários públicos do distrito de Matutuíne é desoladora. Alguns professores chegam a abandonar os seus postos de trabalho por mais de 48 horas, em busca dos salários em Maputo.
Por exemplo, os professores que leccionam nas escolas primárias de Huko, Chia, Machia, Tanga, Nguenha, Mabuluko, Ngomene, Mamol, Kassane, Maduvula, Jabula, Xucha levam um dia para levantarem os seus salários em Maputo.
Por sua vez, os professores que trabalham em Gueveza, Vumendava, Mussongue e Tsolombane levam mais de dois para levantarem os seus ordenados.
“Temos um BCI na Ponta do Ouro que só serve aos turistas. São mais de 100 quilómetros para lá chegar, e paga-se 170 meticais de transporte. Não existe um carro da vila para a Ponta do Ouro”, disse um professor, interpelado em Bela Vista.