Sociedade Saúde Crenças na tradição obstam combate à malária em Moçambique

Crenças na tradição obstam combate à malária em Moçambique

O recurso à medicina tradicional para tratar a malária tem sido recorrente em Moçambique, mormente nas zonas rurais, em detrimento da medica convencional, o que contribuído para o retrocesso no combate desta patologia, defendeu esta terça-feira (15), em Maputo, a pesquisadora e docente do Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal, Ana Siqueira.

Segundo a lusitana, a prática em alusão, induzida por hábitos e crenças tradicionais, impede em grande medida a realização de testes que podiam permitir o diagnóstico rápido da doença e o respectivo começo da terapia nas unidades sanitárias.

No distrito de Chókwè, na província de Gaza, por exemplo, as comunidades acreditam que a malária resulta dos alimentos que consomem, do cansaço em consequência de trabalhos pesados, do feitiço, dentre outros males, de acordo com a estudiosa.

No seu estudo, Ana Siqueira constatou, também, que a dificuldade em localizar os provedores dos serviços de saúde, a falta de interacção entre os agentes da saúde e os curandeiros para desmistificar os hábitos culturais da população em relação a malária e a falta de meios em muitos hospitais para as análises contribuem para o descrédito do sector da saúde.

A pesquisadora, que dissertava num colóquio sobre “a introdução dos testes de diagnósticos rápidos da malária em Moçambique, entre os maus espíritos e uma autoridade biomédica incerta”, realçou que é preciso intensificar a educação das comunidades para eliminar a interpretação de sintomas da doença com base em explicações culturais, nomeadamente o feitiço, hábitos e costumes regionais e familiar, pese embora haja aumento na procura dos cuidados de saúde convencionais.

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Para Ana Siqueira, apesar de algumas vantagens, a introdução de tecnologias biomédicas deixa a população desconfiada relativamente à cura ou diagnóstico da malária, o que faz com que não seja satisfeita pelos provedores de saúde e como alternativa opta pelo tratamento tradicional para a curar a enfermidade.

Perante o descredito do serviço público de saúde, as pessoas encontram nas orações, nos pastores e curandeiros o caminho para a sua purificação com vista a ficarem livres dos supostos maus espíritos. Elas acreditam que eliminar o feitiço que lhes impede de usufruir da cura.

Em Moçambique, as políticas sanitárias ainda são deficitárias, prevalecem fragilidades no sistema de transporte de medicamentos, na logística e há escassez de anti-maláricos, indicou Siqueira, para quem se deve melhorar a monitoria na implementação dos cuidados de saúde, no diagnóstico e no tratamento da malária com vista a responder às expectativas da população.