Pesquisadores dos Estados Unidos desenvolveram uma vacina capaz de eliminar completamente o vírus causador da sida em macacos. Nove dos dezasseis animais que foram vacinados e depois expostos ao vírus da imunodeficiência símia (SIV, na sigla em inglês) aparentaram não ter o vírus no seu organismo. Se aprovada pelos órgãos reguladores, os cientistas estimam que a vacina pode começar a ser testada em humanos em cerca de dois anos. O estudo foi publicado na quarta-feira na edição online da revista Nature.
Apesar de ser algo raro, existem registos na literatura médica de pacientes com sida que conseguiram eliminar o vírus do HIV, ou tiveram uma cura funcional — que se dá quando o vírus apresenta-se em quantidades tão pequenas que é incapaz de produzir sintomas. Isso aconteceu em casos particulares, como o de bebés que receberam medicamentos logo nos primeiros dias de vida ou de pessoas que passaram por um transplante de células-tronco, como parte de um tratamento contra o cancro.
O HIV é difícil de ser eliminado porque cria “reservas” dentro do organismo. Assim, o vírus pode voltar a multiplicar-se se o uso dos medicamentos é interrompido. Por essa razão, os tratamentos com antirretrovirais são feitos durante toda a vida do paciente. Além disso, como o HIV afecta o sistema imunológico, a capacidade de o organismo combater a infecção é prejudicada.
Nova arma — Diante disso, os pesquisadores criaram uma vacina que fornece novas armas às células de defesa do corpo, chamadas de células T. Essa vacina é feita a partir do citomegalovírus, um vírus da família do causador do herpes, que grande parte das pessoas já possui no organismo. Ele foi modificado para expressar proteínas do SIV: as células de defesa criam uma “memória” do vírus, tornando-se capazes de rastrear e destruir as células infectadas.
“Conseguimos ensinar o organismo dos macacos a ‘preparar melhor as suas defesas’ para combater a doença”, explica Louis Picker, pesquisador da Universidade de Ciência e Saúde de Oregon, nos Estados Unidos, e um dos autores do estudo.
Resultados — A vacina foi testada em dezasseis macacos rhesus, que receberam a injecção antes de entrar em contacto com o vírus. Os pesquisadores observaram que, num primeiro momento, a infecção começou a espalhar-se. Mas, na sequência, o organismo dos animais passou a combatê-la. Nove primatas testados responderam positivamente à vacina: os testes indicam que o vírus foi completamente eliminado dos seus organismos. Testados novamente um ano e meio e três anos depois, eles continuaram livres da infecção.
“A nossa vacina mobilizou uma resposta das células T que foi capaz de controlar a invasão do SIV em 50% dos casos estudados. Nesses casos com resultado positivo, os estudos indicam que o SIV foi erradicado do hospedeiro”, completa Picker.
Os pesquisadores esperam que a vacina apresente resultados semelhantes contra o HIV. Picker explica que para a vacina poder ser testada em humanos serão necessários novos estudos para confirmar a segurança do uso do citomegalovírus. Depois, eles pretendem descobrir por que a infecção não foi combatida em todos os animais testados.