Destaque 14,2 milhões de euros branqueados em Moçambique desde 2020

14,2 milhões de euros branqueados em Moçambique desde 2020

Moçambique foi palco de branqueamento de capitais avaliado em mil milhões de meticais (14,2 milhões de euros) entre 2020 e 2023, envolvendo transferências para o estrangeiro, incluindo Portugal, revela um relatório divulgado na segunda-feira à Lusa.

Segundo o Relatório de Análise Estratégica do Gabinete de Informação Financeira de Moçambique (GIFiM), que analisou dados de janeiro de 2020 a outubro de 2023, este branqueamento de capitais teve por base operações comerciais que “usaram canais legítimos, típicos e comuns do comércio para praticar atos de branqueamento”.

As ações envolveram a “introdução de fundos no sistema financeiro por meio de depósitos em numerário parcelados/ fracionados, dissimulação através de múltiplas contas e a exportação ilícita de capitais sob o pretexto de importação de mercadorias ou bens”. Incluíram ainda o uso de contas bancárias pessoais “para operações comerciais em detrimento das contas comerciais”.

O total movimentado nestas operações, de acordo com o GIFiM, atinge mil milhões de meticais (14,2 milhões de euros). Durante esse período, foram analisadas 357 Comunicações de Operações Suspeitas, 30 Comunicações de Atividades Suspeitas e seis Comunicações do Dever de Abstenção/Suspensão de Transação/Operação.

O relatório foi baseado em três Pedidos de Informação da Procuradoria-Geral da República, do Banco de Moçambique e da Autoridade Tributária de Moçambique, bem como numa Revelação Espontânea de uma entidade estrangeira e em 13 Relatórios de Informação/Inteligência Financeira disseminados.

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Na esfera nacional, o relatório destaca uma “predominância” das transações e operações realizadas em Maputo, na capital, no sul, e nas cidades de Nampula e Nacala, ambas na província de Nampula, ao norte.

No contexto internacional, as transações mais frequentes foram direcionadas para o Paquistão, Emirados Árabes Unidos, Hong Kong, Turquia, Índia, Coreia do Sul, Indonésia, Tailândia, Singapura, Portugal e Ilhas Maurícias.

O relatório observa que algumas dessas jurisdições são centros financeiros offshores, países de trânsito no tráfico internacional de drogas e países europeus, onde os fundos em questão são predominantemente aplicados/investidos no setor imobiliário.

Além disso, as entidades envolvidas nessas operações de branqueamento de capitais em Moçambique “recorreram a processos aduaneiros fraudulentos para apresentação às instituições financeiras”, incluindo documentos fraudulentos para validar transferências para o estrangeiro, com a alegada colaboração de indivíduos ou empresas ligadas ao desembaraço aduaneiro, funcionários bancários, funcionários públicos e advogados.

Moçambique está atualmente a fortalecer a sua legislação nacional para sair da “lista cinzenta” do Grupo de Ação Financeira Internacional, com a necessidade de apresentar evidências da implementação desse reforço entre abril e outubro deste ano.