Curiosas Curandeiros moçambicanos sabem que nada podem fazer contra o coronavirus

Curandeiros moçambicanos sabem que nada podem fazer contra o coronavirus

Uma cabana abarrotada de tubérculos e raízes ditas medicinais no mercado de Xipamanine, centro de Maputo, faz os utentes pensar que ali se cura tudo, mas o dono do espaço diz que não pode “fazer nada com a gripe e tosse”, porque “pode ser coronavirus”.

Saimon Macuácuá revela à Lusa que as mezinhas tradicionais que se veem na sua banca são para diabetes, gonorreia, sífilis, micoses e problemas nos rins.

“O Ministério [da Saúde] e a Associação [dos Vendedores de Medicamentos Tradicionais] já nos avisaram que os doentes que nos procuram com sintomas”, tais como febre, tosse ou dificuldades em respirar, “devem ser encaminhados para o hospital do Estado”, diz.

Macuácuá tem farinhas feitas à base de raízes e tubérculos moídos e guardados em frascos transparentes, que diz que “podem dar sorte na vida”, quando diluídos num copo com água, mas não se aventura em relação a outro tipo de curas.

João, que também vende raízes e tubérculos no Xipamanine, diz que os seus clientes sabem que quando tiverem gripe, febre e tosse devem ir ao hospital.

“Os nossos clientes sabem que nem nós, que vendemos medicamentos há vários anos temos solução, por isso, só vêm para aqui quando têm problemas [que conhecemos]”, maleitas de outros foros, assegura.

O presidente da Associação dos Vendedores de Medicamentos Tradicionais de Moçambique (Avematro), Filimão Langa, disse à Lusa que os operadores do setor têm sido sensibilizados para apenas venderem produtos cuja eficácia é conhecida há muitos anos nas comunidades moçambicanas.

O recurso a produtos tradicionais é comum, mas mais grave é a proliferação de medicamentos, muitos falsificados e ilegais, em mercados informais de rua.

“Temos uma colaboração com o Ministério da Saúde e sabemos que doenças como essa nova [Covid-19] não podem ser tratadas por alguém da Avematro”, disse.

“O mercado informal e ilegal de medicamentos é um desafio para qualquer doença na maioria dos países africanos”, alerta Djamila Cabral, representante da Organização Mundial de Saúde (OMS) em Moçambique, em entrevista à Lusa.

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“Geralmente são mais baratos, mais acessíveis – encontram-se em qualquer lugar – e as pessoas têm tendência para se automedicar. Faz parte das fraquezas do sistema”, sublinha.

Aquela responsável sublinha que ainda não há vacinas nem outro tratamento para prevenir a infecção de Covid-19.

As autoridades têm destacado que aquilo que se trata são os sintomas, tais como febre, tosse ou dificuldades respiratórias, com os produtos conhecidos, até que o paciente recupere.

Farmácias contactadas pela Lusa em Maputo disseram que têm havido uma procura de medicamentos contra sintomas típicos do actual período de mudança de estação em Moçambique – de verão para o inverno.

“Compram ‘antigripes’ normais para a época”, afirmou Fernando Novela, técnico na Farmácia Chamanculo, um dos bairros de Maputo.

Novela acredita que a falta de informação no seio da população moçambicana pode fazer com que não haja muita consciência acerca do Covid-19.

“Há desinformação, isso pode estar a criar confusão, mas ninguém nos procurou por achar que tem coronavirus”, referiu.

Na Farmácia Xiquelene, noutro bairro de Maputo, com um dos maiores mercados informais da capital, os utentes procuram medicamentos sem receita médica.

“Neste período do ano, há sempre viroses que fazem as pessoas em Maputo pensar que é o costume e procuram medicamentos deste tempo”, contra gripes, disse Abílio, técnico daquela farmácia.

Em Moçambique, não há casos confirmados da doença, mas o receio aumentou após a confirmação, desde a semana passada, de novos casos na África do Sul, país que faz fronteira com Moçambique.

O novo coronavírus responsável pela Covid-19 foi detectado em Dezembro, na China, e já provocou cerca de cinco mil mortos em todo o mundo, levando a Organização Mundial de Saúde a declarar a doença como pandemia.

Em Portugal, o número de casos confirmados em Portugal de infecção pelo novo coronavírus, que causa a doença Covid-19, subiu hoje para 245, mais 76 do que os contabilizados no sábado, e os casos suspeitos são agora 2.271.