A sexta sessão do Tribunal Judicial da província de Nampula, condenou ontem (13), dois réus à 16 anos de prisão cada, por rapto e tentativa de assassinato de um cidadão albino.
O crime ocorreu em Outubro de 2015 na região de Namina, distrito de Mecuburi.
Trata-se de Nelson Estevão Apaia, pedreiro de profissão, e Bernardo Martins, camponês, de 25 e 29 anos de idade, respectivamente, condenados por prática e co-autoria moral e material do crime de rapto e tentativa de assassinato de Eleutério João, cidadão com problemas de pigmentação da pele.
Segundo a deliberação do Juiz Dimas Maroa, os dois condenados devem ainda pagar 20 mil meticais cada um de indemnização a vítima pelos danos morais e patrimoniais causados, entre outras sanções.
Até a data dos factos, a vítima vivia em casa do seu cunhado Inácio Francisco, este que é tio do condenado Nelson Apaia.
Segundo o juiz Maroa este facto fez com que o réu Nelson conhecesse perfeitamente a rotina da vítima e em concertação com os seus dois comparsas, Bernardo Martins e Lópio, este último em parte incerta, traçassem o propósito de raptar a vítima para fins de tráfico dos seus órgãos.
Acreditavam que alguns órgãos de pessoas com albinismo tivessem poderes especiais para riqueza ou obtenção de lucro fácil em negócios. Por isso, uma vez que sabiam que a vítima observava cinco orações diárias numa mesquita, localizada na zona onde residia, montaram uma emboscada num ponto ao longo da via que ele usava constantemente no bairro Nivalene, explicou o Juiz.
Acrescentou que quando a vítima chegou ao local da emboscada foi interpelada pelo réu Nelson, na companhia dos seus cúmplices, convidando-o para um alegado transporte remunerado de carga.
De surpresa, os três capturaram a vítima e imobilizaram-na com recurso a uma corda sintética, forçando-a, de seguida, a entrar numa mata.
A polícia, que tomou conhecimento da movimentação dos réus, fez-se passar de gente interessada no tráfico da vítima, estratégia que culminou com a frustração do crime e posterior detenção dos seus autores.
Falando em representação dos albinos, momentos após a leitura da sentença, o conceituado músico Ali Faque, também um albino, disse estar satisfeito com a pena, mas lamentou o facto de as autoridades judiciais não terem, até aqui, conseguido chegar aos mandantes deste tipo de crime.
Ainda não estamos totalmente satisfeitos porque nunca assistimos a condenação dos mandantes. Estes (mandantes) são a raiz do problema. Então as autoridades devem se esforçar para prender e responsabiliza-los porque só assim este mal vai ser efectivamente combatido, disse o músico.
Recentemente, a mesma sessão do tribunal judicial condenou a 41 anos de prisão maior os réus envolvidos no assassinato de Alfane Amisse, um albino que antes da sua morte era colaborador do sector da Saúde em Topuito, na província de Nampula.
AIM