As várias famílias que abandonaram as suas casas fugindo do conflito armado em Homoíne e que se encontram no centro de reassentamento de Chigingure, nas proximidades da vila, reclamam da falta de água e comida. Vive-se um autêntico “salve-se quem puder”. O Governo, através do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC), disponibilizou alimentos em quantidade considerada irrisória que deve ser consumida em 15 dias (contados a partir da passada terça-feira). Depois dos tais 15 dias as famílias devem procurar alternativas para auto-sustento.
A delegada provincial do INGC em Inhambane, Bearina Trape, disse ao Canalmoz que as famílias devem “aguentar-se”.
“Nós só distribuímos comida para as famílias para aguentarem durante 15 dias e daí para frente cada família deverá arranjar-se, porque ainda estamos numa fase complicada e ainda haverá outras calamidades”, disse Bearina Trape.
Fugindo da guerra, as famílias abandonaram os seus campos de culturas e são obrigadas a abrirem novas machambas e procurar sementes para a produção de comida.
Flora Jonasse, viúva e mãe de quatro filhos, diz que não sabe o que irá fazer para arranjar comida logo que acabar a que recebeu do INGC, visto que ela deixou a sua machamba numa fase de produção na zona de Nhaulane.
“Não sei a quem recorrer para conseguir comida e dar de comer os meus filhos. Aqui não tenho machamba”, disse Flora para em seguida pedir aos líderes da Renamo e da Frelimo, Afonso Dhlakama e Armando Guebuza, respectivamente, para pararem com o sofrimento do povo. “Esse Guebuza deve aceitar o conselho dos outros. Não pode fazer aquilo que muitos falam, sentar com Dhlakama para parar com tanto sofrimento”.
No centro de reassentamento existem famílias que chegaram depois do INGC ter distribuído comida, que estão num autêntico desespero. As poucas quantidades de farinha de tapioca (farinha de mandioca) que conseguiram levar na fuga é que estão a manter muitas famílias.
Francisco Zaquel e Sara Mateus, casados há seis anos, têm dois filhos e dizem que vêm do povoado de Catini em Pembe. Saíram às pressas e não conseguiram levar comida e outros bens porque não tinham dinheiro para pagar transporte na hora da fuga precipitada. Saíram de Catine a Chigingure a pé.
“Eu e a minha mulher não temos comida porque quando chegamos cá já tinham dado comida às pessoas que chegaram em primeiro e nos tivemos que marchar de Catini para cá, por isso como viemos a pé não conseguimos levar quase nada. Fomos socorridos por uma vizinha nossa que também está cá e que nos deu comida”, disse para acrescentar que “hoje (terça-feira) arranjei trabalho para construir uma barraca de um senhor em troca de comida. Ele disse que me vai dar 10 kg de arroz e feijão”.
O administrador de Homoíne, João Bareto, apelou às populações para regressarem às suas zonas de origem alegando que nas referidas zonas já não há perigo porque as forças governamentais lá estão para garantir a segurança.
Mas a população recusou-se porque, segundo dizem, há confrontos militares em Pembe.
“Eles vieram cá para nos enganar, eles deviam estar nas suas casas do que estar a guarnecer a população onde não estamos habituados a viver assim”. Contaram os residentes de Pembe agora em Chiginguire.