Economia Má distribuição de riqueza vai criar “momentos de contestação”

Má distribuição de riqueza vai criar “momentos de contestação”

O debate sobre a má distribuição de riqueza gerada pela indústria extractiva continua na ordem do dia, e a falta de sinais de vontade por parte do Governo de reverter o actual cenário faz com que mais vozes se juntem ao debate. O académico Boaventura de Sousa Santos, que também é director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, disse esta segunda-feira em Maputo que a abundância dos recursos minerais poderá transformar-se em maldição devido a conflitos que poderão advir da má distribuição das receitas dos mesmos. É de resto um alerta lançado por vários actores sociais.

Comentado sobre os recursos minerais, e apoiando-se na experiência de outros países, maioritariamente africanos, Boaventura de Sousa Santos vaticina um futuro assombrado por aquilo a que apelidou de “maldição da abundância”, onde em face da má distribuição de riqueza o País possa viver momentos de contestação popular.
“Todos os países que quando eram pobres e com pouco bem-estar descobriram grandes riquezas naturais, exploraram tais riquezas e ficaram cada vez mais pobres ”, sustenta.

Boaventura de Sousa Santos falava na Conferência de Imprensa do anúncio do lançamento da Campanha Nacional Contra a Privatização e Usurpação da Terra, e o Saque dos Recursos Naturais, organizado por várias organizações da sociedade civil.

ProSavana volta ao barulho

Na ocasião, a presidente da Liga dos Direitos Humanos, Alice Mabota, citou o exemplo do projecto ProSavana como “presente envenenado”.

Recomendado para si:  Moçambique dá luz verde à concessão para construção da hidroeléctrica de Mphanda Nkuwa

Para Mabota, não há qualquer réstia de dúvida que o projecto só vai acelerar o processo de expropriação e privatização da terra dos verdadeiros donos – os moçambicanos.
“Aparentemente, é uma coisa boa, mas um dia vamos acordar enquanto já não temos nada”, disse Mabota.

Por seu turno, o académico Boaventura de Sousa Santos defende que a terra “será origem de muitos conflitos territoriais”.

Para o académico, o modelo de desenvolvimento de agro-negócios assenta na mecanização e no uso de agro-tóxicos, o que passa, necessariamente, em expulsar os camponeses.

Na esteira das concessões de grandes extensões de terra, as organizações da Sociedade Civil moçambicana vão lançar uma Campanha Nacional contra a Privatização e Usurpação da Terra, e Saque dos Recursos Naturais.

A iniciativa, segundo Graça Samo, do Fórum Mulher, surge pela necessidade de “defender a lei de terras e defender toda e qualquer tentativa de privatização da mesma”. Bem como alertar os moçambicanos sobre a forma pouco transparente do Governo na gestão dos recursos.

A campanha será em forma de “marchas, educação popular sobre o direito à terra, caravanas de educação civil das populações rurais e urbanas sobre governação, cartas de denúncia e técnicas de demanda população de contestação”, explicou Sambo.

Canal Moz