“Os insectos como alimento para humanos e para animais emergem como um assunto especialmente relevante no século XXI devido ao custo crescente da proteína animal, à insegurança alimentar, às pressões ambientais, ao crescimento da população e à procura crescente de proteína animal por parte das classes médias”, escreve a FAO num relatório segunda-feira publicado.
Recordando a estimativa de que em 2030 o mundo terá nove mil milhões de habitantes que precisam de ser alimentados, os autores do texto defendem que são urgentemente necessárias alternativas à produção animal e de rações e sugerem que a entomofagia, ou consumo de insectos, pode contribuir positivamente para o ambiente, a saúde e os modos de vida.
No documento, intitulado “Insectos Comestíveis: Perspectivas Futuras para a Segurança Alimentar”, aquela agência das Nações Unidas recorda que os insectos sempre fizeram parte da alimentação humana e são actualmente consumidos por dois mil milhões de pessoas em todo o mundo, particularmente em partes da Ásia, África e América Latina, embora causem repulsa em muitos ocidentais.
Esta atitude levou a um esquecimento dos insectos na investigação agrícola e, apesar de algumas referências histórias sobre o uso de insectos como alimento, a entomofagia só recentemente começou a ser foco de atenção por parte dos “media”, investigadores, “chefs” e da indústria alimentar a nível global.
Segundo a FAO, há registo do consumo de mais de 1900 espécies de insectos, os mais consumidos dos quais são escaravelhos (31 por cento), lagartas (18 por cento), abelhas, vespas e formigas (14 por cento). Gafanhotos, cigarras, térmitas, libelinhas e moscas são outras espécies consumidas.
Agora a organização, sedeada em Roma, vem defender a criação de insectos como uma solução para a insegurança alimentar, já que são nutritivos, com altos níveis de proteínas, gordura e minerais, além de ser baixo o risco de transmitirem doenças de origem animal, como a gripe das aves ou a doença das vacas loucas.
Podem ser consumidos inteiros ou transformados em farinha ou pasta e incorporados em outros alimentos, escrevem os autores do texto.
Também podem ser utilizados como ingrediente para a alimentação animal, algo que está já a ser testado por empresas em várias partes do mundo, estimando a FAO que a utilização destas rações na aquacultura e na produção de aves se torne mais comum na próxima década.
Entre as vantagens ambientais da produção de insectos, a FAO recorda que eles são eficientes a converter alimentos em massa corporal – convertem dois quilos de alimentos em um quilo de massa corporal, enquanto o gado precisa de oito quilos de alimentos para produzir um quilo de carne.
Também consomem menos água, produzem menos gases com efeitos de estufa e podem alimentar-se de biorresíduos como lixo orgânico.
Por tudo isto, e porque “há muito trabalho a fazer” para concretizar o potencial dos insectos como alimento, a FAO defende que se aposte na investigação em áreas como as tecnologias para a produção em massa, a segurança alimentar (valor nutritivo dos insectos e possíveis alergias ou doenças), a legislação e a educação dos consumidores sobre os benefícios da entomofagia.
Jornal Noticias