Capa Emirates suspende colaboração com agências moçambicanas por dificuldades cambiais

Emirates suspende colaboração com agências moçambicanas por dificuldades cambiais

A companhia aérea Emirates anunciou oficialmente a suspensão da emissão de bilhetes para todas as agências de viagens licenciadas em Moçambique.

Esta decisão resulta da escassez de moeda estrangeira, especialmente dólares americanos, no mercado nacional, bem como das dificuldades associadas à repatriação das receitas em moeda estrangeira.

A medida, que entrou em vigor na segunda-feira, implica que as agências moçambicanas não podem mais emitir bilhetes da Emirates, tendo de recorrer a intermediários estrangeiros.

Muhammad Abdullah, CEO da Cotur, uma das principais agências de viagens do país, comentou com os jornalistas que a decisão da Emirates representa um problema grave para o turismo em Moçambique. “Na prática, isto significa uma perda total de autonomia operacional. Os efeitos desta suspensão são imediatos e profundamente preocupantes para o sector. Embora a suspensão tenha apenas agora entrado em vigor, os problemas subjacentes datam de 2023, em virtude das restrições cambiais e da crescente dificuldade para as companhias aéreas transferirem as suas receitas para fora do país”, afirmou.

Abdullah destacou que a Emirates é a primeira empresa a adoptar medidas drásticas, mas advertiu que todas as companhias aéreas internacionais enfrentam dificuldades semelhantes. “Se nada for feito, outras seguirão o mesmo caminho. Outras empresas afectadas pelo mesmo problema incluem a Qatar Airways, Ethiopian Airlines, Kenya Airways, Rwandair, TAAG e TAP Air Portugal, que já começaram a limitar a emissão local a bilhetes SOTO (Vendidos fora, Emitidos fora)”, acrescentou.

O CEO expressou preocupação de que a decisão da Emirates tornará as viagens mais caras e logisticamente complexas. “As agências de viagens perdem margem e competitividade, e os passageiros, especialmente os que viajam a negócios, enfrentarão atrasos, custos adicionais e uma perda de flexibilidade”, disse.

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Abdullah referiu ainda que esta situação acarreta um aumento nos custos operacionais e administrativos devido à perda de comissões locais, o que pode resultar numa diminuição do fluxo turístico por causa das tarifas mais elevadas e da redução de voos. O acesso a Moçambique torna-se também mais difícil, o que poderá afastar operadores e viajantes internacionais.

“Além disso, esta situação pode levar ao cancelamento de eventos e conferências devido à instabilidade logística. Também provoca uma perda de credibilidade institucional devido ao bloqueio e aos atrasos na obtenção de moeda estrangeira”, acrescentou.

Por último, Abdullah alertou que esta situação mina a confiança no sistema financeiro nacional e na capacidade do país de garantir estabilidade e previsibilidade cambial para empresas estrangeiras. O turismo é um setor estratégico e transversal—se este ecossistema colapsar, os efeitos estender-se-ão à hospitalidade, conferências, transportes e receitas fiscais.

Como responsável pelas agências de viagens e operadores turísticos na Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Abdullah concluiu: “É imprescindível normalizar o acesso à moeda estrangeira e criar mecanismos transparentes para a repatriação de fundos. Apenas assim poderemos evitar um isolamento aéreo progressivo e garantir a sustentabilidade de um setor vital para o desenvolvimento económico e a imagem de Moçambique como destino turístico e de negócios.”